Domingo, Outubro 20

O colostro, o primeiro leite produzido por humanos e outros mamíferos nos primeiros dias após o parto, é “ouro líquido”, diz Jennifer Smilowitz.

“Está repleto de nutrientes, mas também de moléculas que não são necessariamente nutrientes – são como estes compostos biologicamente ativos que são, na verdade, protetores”, explica Jennifer Smilowitz, professora assistente no Departamento de Nutrição da Universidade da Califórnia, em Davis, cuja investigação se centra na amamentação, nutrição, lactação e microbioma.

Estes nutrientes e compostos incluem imunoglobulinas (ou anticorpos), glóbulos brancos, vitamina A, magnésio, cobre, zinco, fatores de crescimento e uma variedade de outros componentes essenciais para o arranque da vida, incluindo a força e a estrutura do sistema imunitário e do intestino, segundo os especialistas.

Estes fatores de crescimento reforçam os intestinos permeáveis e com fugas, selando o intestino e impedindo que as bactérias nocivas ou os agentes patogénicos entrem na corrente sanguínea de forma desregulada, acrescenta Smilowitz. O colostro protege o bebé durante uma fase vulnerável.

Mas “atualmente temos assistido a um enorme aumento dos suplementos de colostro para consumo em adultos, com algumas alegações de saúde robustas, mas que podem ou não ser verdadeiras”, diz Caroline Thomason, dietista e professora na área da diabetes, baseada na Virgínia, via e-mail.

Os suplementos de colostro, muitas vezes derivados de vacas, são populares pelo seu potencial para aumentar a imunidade, melhorar a saúde intestinal e melhorar o desempenho atlético, adianta Lisa Young, nutricionista e dietista registada e professora adjunta de nutrição na Universidade de Nova Iorque, na cidade de Nova Iorque, também em declarações por e-mail.

Recolhido de vacas leiteiras, nos primeiros dias após o nascimento, processado e pasteurizado para ser seguro para consumo humano, o colostro bovino está disponível em formas como pós, comprimidos e líquidos, e ainda em forma de clister.

“É um processo delicado porque envolve a preservação dos compostos bioativos, garantindo, ao mesmo tempo, que o produto é seguro para consumo”, sublinha Caroline Thomason.

“No entanto”, acrescenta Thomason, “é importante notar que, embora estes benefícios pareçam excitantes, a investigação sobre o colostro ainda é relativamente nova e não é totalmente conclusiva”.

Como o colostro afeta a saúde humana

Uma das principais razões pelas quais algumas pessoas recorrem ao colostro para obter benefícios para a saúde é a inflamação intestinal, que faz com que sua fisiologia se assemelhe à de um bebé vulnerável, diz Jennifer Smilowitz.

Essa inflamação pode dever-se a colite ulcerosa, doença de Crohn, infeções crónicas, diarreia crónica ou HIV, ou ainda aos efeitos da quimioterapia ou da radiação, acrescentou.

“Há algumas evidências preliminares de que o colostro pode apoiar a imunidade e a saúde intestinal, particularmente em pessoas com sistemas imunológicos comprometidos ou problemas de permeabilidade intestinal”, diz Caroline Thomason. Alguns pequenos estudos descobriram que o colostro pode aumentar o crescimento das células intestinais e fortalecer as paredes do intestino.

Outros estudos sugerem benefícios para as infeções do trato respiratório. Um estudo de 12 semanas, com 35 adultos corredores de longa distância, descobriu que tomar um suplemento de colostro diariamente aumentou a quantidade de certos anticorpos na saliva em 79%, o que os autores pensaram que poderia fortalecer a capacidade dos participantes para combater infeções. Um estudo separado, realizado com 29 ciclistas do sexo masculino, obteve resultados semelhantes. Uma dose diária de 10 gramas durante cinco semanas foi associada a um menor declínio das células imunitárias após o exercício e a uma maior redução do risco de infeção respiratória.

É importante notar que os resultados destes estudos apenas indicaram alterações nos biomarcadores imunitários, mas não necessariamente resultados ou melhorias em eventos do sistema imunitário, como ficar doente, sublinha Julie Stefanski, uma nutricionista registada na Pensilvânia e porta-voz da Academia de Nutrição e Dietética.

“E, por vezes, a dose utilizada no estudo é muito, muito mais elevada do que a que é vendida num suplemento”, acrescenta Stefanski.

Há também relatos anedóticos de melhorias na saúde da pele e na recuperação de exercícios, mas ainda faltam pesquisas científicas nessas áreas, acrescenta ainda Thomason. Também não há provas sólidas que apoiem as alegações de perda de peso ou a reversão de alterações relacionadas com a idade.

Há também a questão de quem financia as investigações. As empresas de suplementos ou de laticínios, ou os especialistas em saúde a elas associados, financiaram a maior parte da investigação sobre os suplementos de colostro, que em grande parte não foi reproduzida, dizem os especialistas. Alguns estudos também tiveram resultados mistos, acrescenta Jennifer Smilowitz.

Antes de comprar

Como acontece com qualquer suplemento, consultar um profissional de saúde antes de começar a tomar e seguir as instruções do fabricante é crucial, sublinha Caroline Thomason, sobretudo, se tiver alguma condição gastrointestinal.

“A suplementação com colostro é geralmente considerada segura para a maioria das pessoas, mas existem riscos, especialmente para pessoas com alergias ao leite. Grandes doses podem potencialmente levar a distúrbios digestivos, como inchaço ou diarreia”, precisa Caroline Thomason. As crianças e as mulheres grávidas ou a amamentar também devem evitar tomar colostro.

“Além disso, esses suplementos são caros e há o risco de não notar nenhuma melhoria significativa na saúde”, acrescenta Thomason.

O custo dos suplementos de colostro pode variar de cerca de 15 dólares (13,5 euros) a 200 dólares (179 euros) por frascos, dependendo em parte da qualidade – o que é importante, pois um calibre mais alto significa um risco menor de contaminação, diz Lisa Young.

A qualidade é determinada por fatores como a saúde da vaca, o ambiente em que é criada e dieta, se foi vacinada, a estação do ano, a raça do animal, o espaço de tempo entre gestações e o momento da recolha do colostro, diz Jennifer Smilowitz.

Embora os bezerros precisem receber o primeiro colostro, o colostro colhido no terceiro ou quarto dia é mais saudável do que o colostro colhido uma semana depois. Dada a sensibilidade do processo de coleta, um suplemento que é mais barato é provavelmente menos eficaz, alerta Julie Stefanski.

Além disso, o colostro de vacas alimentadas com capim e criadas em pastagens é melhor do que o de vacas criadas convencionalmente.

Uma vez que a US Food and Drug Administration não pré-aprova os suplementos em termos de segurança e eficácia, como faz com os medicamentos sujeitos a receita médica, antes de chegarem ao mercado, saber quais os suplementos de colostro que valem mais o seu dinheiro do que outros pode ser complicado.

Mas para escolher o suplemento da mais alta qualidade possível, procure produtos que sejam testados por terceiros quanto à qualidade e pureza, recomenda Keri Gans, uma nutricionista dietista registada no estado de Nova Iorque.

Também pode consultar o site do fabricante ou contactar o serviço de apoio ao cliente para obter mais pormenores que poderão não constar da embalagem, dizem ainda os especialistas.

“Embora o colostro possa oferecer alguns benefícios para a saúde, não é uma pílula mágica, e mais pesquisas são necessárias para entender completamente os seus efeitos e segurança a longo prazo”, diz Lisa Young.

Dar prioridade a uma dieta saudável e equilibrada, bem como ao exercício e ao sono, irá melhorar muito mais a sua saúde, diz Caroline Thomason.

Compartilhar
Exit mobile version