Quarta-feira, Dezembro 18

Número recente publicar na rede social X, o bilionário Elon Musk criticou o programa de desenvolvimento e produção das caças F-35 de nova geração, afirmando que as caças tripuladas são armas de guerra do passado, com tecnologias limitadas ou mesmo obsoletas na era dos drones. O de Musk, que mantém uma relação próxima com Donald Trump e já foi confirmado como membro da sua equipa com responsabilidades para “reformar” o aparelho estatal, sinalizando o que parece ser uma nova era nos conflitos bélicos. Musk reforça a hipótese de que, caso estejamos a caminhar para uma Terceira Guerra Mundial – o que parece estar a acontecer a um ritmo acelerado – poderemos assistir a um formato de guerra em que o envolvimento direto de seres humanos no transferido de armas será cada vez menor.

A tecnologia da guerra segue, assim, a lógica da evolução tecnológica sob o capitalismo: o aumento relativo do capital fixo – o investimento em máquinas – e o crescimento da produtividade do trabalhador que opera estas máquinas. Neste caso, o trabalhador é o soldado cada vez mais especializado; a maquinaria são as armas cada vez mais sofisticadas; e o “valor de uso” produzido é a destruição. A guerra, portanto, tende a envolver cada vez menos militares, enquanto a destruição não só persiste como aumenta. O dessa destruição passa a ser predominantemente alvo dos civis e das suas infraestruturas. A tecnologia permite que um número limitado de pessoas controle máquinas militares com um poder de destruição imenso, tornando o “dano colateral” um dos elementos centrais do conflito. Assim, a guerra evolui de um confronto entre militares para uma guerra de militares contra civis.

Neste contexto, a compreensão da “Guerra Total” altera-se, dado que já não é necessária uma mobilização total da sociedade ou uma militarização em massa. Também se perde o elemento “democratizador” que a guerra por vezes teve – consequência da necessidade de legitimação popular e do papel do povo em armas. Esta nova fase reflete uma tendência genocida, já visível em conflitos passados ​​como a Segunda Guerra Mundial com bombardeamentos massivos de civis pelos Aliados, genocídios cometidos por regimes fascistas e, mais recentemente, nas guerras coloniais.

Com uma revolução da inteligência artificial, que permite que máquinas tomem decisões e sejam capazes de eliminar autonomamente partes significativas da população, esta distopia atinge um patamar mais elevado. A situação em Gaza é ilustrativa dessa nova realidade, sendo um exemplo extremo de como os conflitos modernos são afastados dos combates diretos entre os exércitos e se concentram na destruição do povo civil e das infraestruturas. A relação entre vítimas civis e combatentes atinge, neste caso, níveis genocidários.

Ainda assim, tal como o famoso ditado do general Pershing – “a infantaria ganha batalhas, a logística ganha guerras” – continua a ser a lógica dos interesses socioeconómicos para determinar as guerras. As desigualdades globais moldam tanto a estrutura legal quanto o valor atribuído à vida humana em contextos de guerra.

Numa recente passagem por Portugal, o professor de Direito Internacional da Universidade de Liverpool, Robert Knox, destacou como o direito internacional reflete esta relação profundamente colonial e desigual no que diz respeito à tecnologia e à guerra. Por exemplo, grande parte do armamento “inteligente” e “de precisão” usado por Israel é considerado legal, enquanto os foguetes rudimentares utilizados pelo Hamas, devido ao seu caráter “primitivo” e não direcionado, são considerados ilegais e seu uso é classificado como um crime contra a humanidade.

Enquanto isso, a administração Biden, apesar de ter perdido as eleições e a legitimidade democrática para tomar tais decisões, está usando nos últimos meses nenhum poder para intensificar conflitos militares globais – sem envolver diretamente soldados de sua metrópole. É notável não apenas o envio massivo de novas quantidades de armamento para a Ucrânia — e, consequentemente, o investimento de bilhões de euros na indústria de defesa norte-americana — mas também a exigência de que o país sacrifique seus jovens, agora obrigado a alistar-se a partir dos 18 anos, em vez dos 25. Isso ilustra como os neoconservadores A administração Biden continuará a apostar no baixo custo da “carne de canhão”, mantendo uma estratégia de prolongar a guerra “até ao último ucraniano”.

Os autores escrevem segundo o novo acordo ortográfico

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