Sexta-feira, Novembro 29

A conferência organizada pela Associação Limpeza Urbana (ALU) com o apoio da autarquia lacobrigense reuniu autarcas, entidades regionais e nacionais e o público em geral no Auditório da Câmara Municipal Century para debater este problema que, nos últimos anos, tem afetado a população portuguesa costa.

Abordando diferentes perspetivas, a mensagem foi clara: mais cooperação entre municípios, maior envolvimento da comunidade científica, valorização económica das algas recolhidas e necessidade de criação de um fundo de apoio do governo central aos municípios afetados.

Detetada pela primeira vez em Portugal continental na Praia Dona Ana em 2021, a espécie Rugulopterix okamurae é originária da costa asiática, mais precisamente do Japão e da Coreia do Sul, e tem gerado problemas e despesas para os municípios portugueses (com especial enfoque no oeste Algarve) e espanhola, sendo o caso mais recente a sua presença em grandes quantidades na Meia Praia.

Seu crescimento ocorre nas rochas e geralmente aparece com temperaturas mais altas da água e marés agitadas que fazem com que elas se soltem e se acumulem nas praias. A situação piora ano após ano, afetando o meio ambiente, o turismo, a economia local e o bem-estar da população, além dos custos para as prefeituras removerem essa espécie invasora.

Créditos: Imagem Fornecida;

A sessão de abertura foi liderada por Hugo Pereira, presidente da Câmara Municipal de Lagos, e Luís Almeida Capão, presidente da direcção da ALU, seguindo-se as intervenções de Rui Santos (Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve) e Conceição Gago (em representação dos portugueses). Agência do Ambiente – Algarve), que apresentou uma perspetiva mais científica sobre esta macroalga. Traçando um perfil dos seus benefícios, perigos e comportamentos, Rui Santos disse que, através do investimento, a comunidade científica pode cooperar através da investigação, mapeamento e previsão, permitindo uma intervenção com bastante antecedência. Além disso, é também essencial uma maior valorização económica deste recurso através de biorrefinarias que possibilitem a reutilização (ração, fertilizantes, fibras para a indústria têxtil, por exemplo). Já Conceição Gago garantiu que a presença desta espécie exótica com grande capacidade de dispersão e colonização não prejudica a qualidade das águas balneares, sendo ainda necessária regulamentação (ICNF e DGRM) quanto a soluções para resolver o problema .

Franciso Cerdan, delegado de turismo e praias da Costa del Sol Ocidental (Espanha), região também afetada, partilhou a sua experiência, que inclui a cooperação intermunicipal, bem como a necessidade de olhar para as algas marinhas como um resíduo com características diferentes das domésticas.

Créditos: Imagem Fornecida;

Soluções inovadoras

Numa perspetiva mais prática, foram apresentadas às empresas associadas da ALU soluções inovadoras que permitem o menor impacto ambiental possível na remoção de toneladas de algas das areias (Almovi e Certoma). A startup Easy Harvest anunciou que já está a intervir em Lagos removendo algas através de aspiração no mar (20 a 30 toneladas em seis horas), antecipando a sua chegada e acumulação nas praias. A experiência também conta com a colaboração de pescadores locais.

Luís Bandarra, vereador responsável pelo Ambiente, revelou que, no espaço de quatro anos, o município lacobrigense já gastou cerca de 348 mil euros para retirar macroalgas das praias do concelho (especialmente Batata, Dona Ana, Luz e Meia Praia), inesperado custos que exigem revisões orçamentais constantes e um impacto económico preocupante ao nível do turismo. Nas palavras do vereador, é urgente um maior compromisso e cooperação entre os municípios algarvios, um maior envolvimento da comunidade científica para encontrar soluções e um fundo do governo português para compensar estas despesas inesperadas. Num ponto de vista mais positivo, informou que todas as seis mil toneladas já recolhidas foram entregues aos agricultores das zonas do Vale da Lama e do Sargaçal, permitindo um maior desenvolvimento da produção local.

A sessão de trabalho terminou com uma mesa redonda moderada por David Carvalho (jornalista do Jornal do Algarve), onde participaram Luís Bandarra, Mário Guerreiro (vereador da Câmara Municipal de Lagoa) e Demétrio Henriques (diretor operacional da Cascais Ambiente), debatendo a forma como cada município enfrenta a frequência e o impacto desta “invasão”, bem como propostas de soluções a curto, médio e longo prazo, tendo sempre presente a premissa de que é possível transformar este problema numa oportunidade.

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