Quinta-feira, Setembro 12

Aconteceu, na quarta-feira, o terceiro dia da convenção nacional democrata, que decorre em Chicago, numa noite marcada pelo facto de o governador do Minnesota, Tim Walz, ter aceitado a nomeação oficial do partido para vice-presidente, e pelo discurso do ex-presidente Bill Clinton. 

 

Um dos pontos altos da noite foi o momento em que Walz subiu ao palco. O governador aceitou a nomeação oficial do partido democrata para ‘vice’, num discurso no qual declarou que a eleição de novembro será uma luta pela liberdade. 

Perante uma multidão que ecoava “treinador, treinador, treinador”, em referência ao percurso profissional do democrata, Walz aproveitou o estilo simples de se expressar para focar grande parte da mensagem nas preocupações e necessidades da classe média e dos mais desfavorecidos, falando das suas origens humildes e de como cresceu numa aldeia rural do Nebrasca com apenas 400 habitantes. 

Estamos todos aqui por uma simples razão, adoramos este país. Esta eleição é sobre liberdade“, declarou, falando desde liberdade reprodutiva à liberdade de não sofrer violência armada e de viver a vida como se entender. 

“Se vocês fazem parte de uma família da classe média ou a tentar chegar lá, Kamala Harris vai cortar os vossos impostos”, prometeu Tim Walz. “Se estão a ser espremidos pelos preços dos medicamentos, Kamala Harris vai enfrentar as grandes farmacêuticas. Se têm esperança de comprar uma casa, Kamala Harris vai ajudar a tornar isso mais acessível. E vai defender a vossa liberdade de viverem a vida que querem ter”, continuou. 

Estas medidas, que arrancaram grandes aplausos, foram colocadas em contraste com o Projeto 2025 (um documento de 900 páginas com propostas conservadoras) e as políticas que os opositores Donald Trump e J.D. Vance querem implementar. 

“Eles vão esvaziar a segurança social e a MediCare, vão banir o aborto mesmo sem o Congresso (…) É uma agenda que ninguém pediu e só serve os mais ricos e mais extremistas”, acusou. “Não faz nada pelos nossos vizinhos em dificuldades”, acrescentou. “É esquisito? Sem dúvida. Mas também é errado e perigoso”. 

Walz foi o democrata que cunhou a expressão “esquisitos” para caracterizar os candidatos republicanos, algo que tem incomodado Trump e Vance.

Temos algo melhor para oferecer aos americanos”, disse Walz, elogiando o percurso de Kamala Harris e as suas propostas progressistas. “Kamala é forte, tem experiência e está pronta”, considerou o governador, cuja família estava presente e visivelmente emocionada. 

“É assim que vamos virar a página de Donald Trump”, prometeu. 

Walz foi professor de estudos sociais e treinador de futebol americano no secundário e comparou a campanha a um jogo que está quase no fim e onde é preciso deixar tudo em campo. 

“A saúde e a habitação acessível são direitos humanos, e o governo fica de fora dos nossos quartos”, resumiu, sobre os traços gerais daquilo em que o ‘ticket’ acredita. 

“É assim que vamos tornar a América num sítio onde nenhuma criança passa fome, nenhuma comunidade fica para trás, e ninguém ouve que não pertence aqui”, completou.

O discurso ficou também marcado pelo momento em que, na plateia, ao lado da mãe e da irmã, o filho de Walz, Gus, de 17 anos, se levantou, apontando para o palco, enquanto parecia gritar, em lágrimas: “É o meu pai”, cita a imprensa norte-americana. 

Bill Clinton pede eleição de Kamala e critica candidato do “eu, eu, eu”

Quem também marcou presença foi o antigo líder dos EUA Bill Clinton, que pediu aos norte-americanos para elegerem Kamala Harris, chamando-lhe “a presidente da alegria” que o país precisa numa altura de divisão, “retórica sem sentido” e perigo para a democracia.  

Kamala Harris é a única candidata que tem a visão, a experiência, o temperamento, a vontade e – sim – a alegria para conseguir fazer algo”, afirmou o ex-presidente. “Quero uma América mais alegre”, disse.

O sorriso fácil e a gargalhada estridente que caracterizam Kamala Harris têm sido alvo de críticas por parte do oponente Donald Trump. Vários oradores democratas fizeram referência à alegria da candidata como algo positivo. 

Bill Clinton falou de um “sorriso de mil watts” e de alguém que trabalhará para resolver os problemas das pessoas e aliviar os seus medos. 

“O oponente fala sobretudo de si próprio”, disse o antigo governante, optando por não se referir a Donald Trump pelo nome. “As suas vinganças, as suas queixas, as suas conspirações”, continuou, dizendo que para o republicano o que interessa é “eu, eu, eu”. 

“Quando Kamala Harris for presidente, todos os dias vão começar com ‘vocês, vocês, vocês'”, garantiu Clinton.

Aquele que foi o 42.º presidente dos Estados Unidos reservou uma porção do discurso a falar de políticas e áreas onde é preciso tomar medidas, tais como habitação acessível, medicamentos mais baratos, financiamento para pequenas empresas e fortalecimento das alianças externas do país. 

Clinton reconheceu que o entusiasmo em torno da campanha é muito forte, mas avisou — tal como outros oradores têm feito – que será uma corrida renhida. 

“Sabemos que temos de enfrentar a mesma luta que as forças do progresso tiveram de lutar durante 250 anos”, declarou. “Perante uma oposição dura e, por vezes, violenta, temos de encontrar uma forma de seguir em frente juntos e tornar a união mais perfeita”, acrescentou.

Do outro lado, disse Clinton, há um oponente que executa bem a sua estratégia de dividir, culpar e criar caos. 

“No outro dia, o oponente disse que depois desta eleição as pessoas não teriam de votar outra vez”, disse Clinton, parafraseando uma mensagem que Trump deixou aos seus apoiantes. “Vocês pensam que eles estão a brincar”, avisou o antigo presidente. 

“Conheço muitas destas pessoas e algumas pensam que estão destinadas a dominar a América política, social e economicamente”, mesmo que tenham de manipular os resultados para isso, disse. 

“Quero que vocês estejam felizes. Mas nunca devem subestimar os adversários. Estas pessoas são muito boas a distrair-nos, a criarem dúvidas e arrependimentos”, alertou.

Clinton urgiu os democratas a falarem com vizinhos, familiares e amigos que pensem de forma diferente e a ir ao seu encontro sem os denegrirem. 

“Se votarem nesta equipa, se conseguirem elegê-los e trazer esta lufada de ar fresco, terão orgulho disso para o resto da vida”, disse Clinton. “Precisamos de Kamala Harris, a presidente da alegria, para nos liderar”.

Note-se que várias personalidades marcaram presença na convenção, incluindo Oprah Winfrey e Mindy Kaling, e o cantor e compositor norte- americano Stevie Wonder atuou.

A convenção nacional democrata encerra hoje com o discurso de aceitação de Kamala Harris como nomeada democrata à presidência.

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