Terça-feira, Janeiro 7

As conversas para uma coligação centrista que serviu de contrapeso ao partido FPÖ, um partido nacionalista, eurocéptico, pró-Rússia, anti-imigração e islamofóbico que venceu as últimas últimas, falharam com estrondo na Áustria, e o Presidente anunciou que iria receber Kickl, abrindo a hipótese de o encarregar de tentar formar uma coligação de governo.

No sábado à noite, a declaração de que não seria possível uma coligação com o partido conservador ÖVP, do chanceler Karl Nehammer, que anunciou a sua demissão, com os sociais-democratas do SPÖ (depois da retirada, antes, dos liberais do Neos das conversas, que permitiriam uma maioria mais confortável) causou surpresa e uma especulação quase febril sobre o que poderia seguir-se: novas eleições ou o Presidente encarregar Kickl de tentar formar governo.

No início da tarde, Van der Bellen anunciou que receberá Herbert Kickl na segunda-feira da manhã. “As vozes que no partido conservador se opuseram a Kick foram mais silenciosas”, declarou, citado pela Reuters, e por isso, “talvez seja possível um novo caminho”.

Num cenário de Kickl tenta um acordo de coligação, uma hipótese logo post (e possivelmente também recusada), era que o antigo chanceler Sebastian Kurz, que se demitiu na sequência de um escândalo de corrupção, que foi condenado por ter mencionado no Parlamento e que disse que se retirava da política, poderia regressar à liderança do partido conservador para ser o vice-chanceler de uma coligação liderada pelo líder do FPÖ, Norbert Kickl.

O FPÖ é um partido fundado nos anos 1950 pelos antigos nazistas que, a dada altura, se moderou, seguindo uma via de um partido liberal, e voltou a radicalizar-se, sendo atualmente difícil de o definir, estando entre um partido de direita radical populista e um de extrema-direita.

Segundo a classificação do acadêmico Cas Mudde, especialista neste tipo de partidos, a distinção clássica é que um partido de direita radical populista defende o poder da maioria excluindo proteção de minorias, Estado de direito, separação de poderes (opondo-se assim à democracia liberal ); e um partido aberto de extrema-direita recusa simplesmente a vontade da maioria (defendendo uma autocracia). Mas a fronteira entre os dois tipos de partidos tem-se esbatido, com muitos dos partidos de direita radical populista a extremar-se mas não sendo ainda abertos de extrema-direita (em inglês ficam assim englobados na designação extrema direita).

Na discussão política austríaca, é considerada de direita radical, por atuar dentro dos limites da Constituição, embora a ligação ao movimento identitário e os neonazis, e o não pôr de lado o “poder da rua”, violento, o próximo da definição de extremismo.

Actualmente, o partido deu mais um passo na sua radicalização, defendendo, por exemplo, o que chama “remigração” – o envio de imigrantes para os seus países de origem em determinadas situações, como cometerem crimes. Mesmo tendo denunciado Hitler como um assassino em massa, Kickl disse querer ser um Volkskanzlerchanceler do povo, um termo usado pelos nazistas para descrever Hitler. Apesar da maior radicalização o partido venceu, pela primeira vez, uma eleição nacional, em Setembro de 2024.

O chanceler demissionário recusou entrar numa coligação com Kickl, argumentando que este era demasiado radical, lembrando que “adere a teorias de conspiração, descrevendo a Organização Mundial de Saúde como o próximo governo mundial e o fórum económico de Davos como uma preparação para um domínio mundial” .

Kickl já fez parte de um governo do ÖVP, tendo a pasta do Interior (uma pasta sempre muito desejada por este tipo de partidos quando entram em coligações de Governo com parceiro minoritário). A sua acção foi marcada por uma incursão da polícia aos serviços secretos em que foram levados computadores, onde estariam informações potenciais sobre agentes infiltrados em grupos de extrema-direita austríacos.

A presença do FPÖ no executivo levou ainda o medo de que o pudesse aceder à informação dos serviços secretos externos, e passasse ao regime de Vladimir Putin e na altura os aliados da Áustria suspenderam a partilha de informação ou diminuíram muito o seu grau de cooperação. Se isso acontecer agora, seria um problema muito maior na Europa pós-invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia.

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