Sexta-feira, Janeiro 10

Há quatro anos foram os dois lados opostos para chegar a um acordo numa permuta de terrenos para a construção da nova sede da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP). Agora, vamos estar no mesmo lado da corrida para a liderança da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Pedro Proença, actual presidente da LPFP, é candidato, nas eleições de 14 de Fevereiro, à presidência da FPF. E o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, foi escolhido para ser o presidente do Conselho Superior da lista que se candidata. A autarca aceitou e vai acumular as duas funções. A única força política que na assembleia municipal de 2020 votou contra a referida troca de terrenos, a CDU, questiona o convite. Moreira considera não haver nenhum conflito de interesses.

“Ainda eu não fazia política e já me interessava pela matéria do futebol”, diz Rui Moreira, contactado pelo PÚBLICO, para explicar a sua motivação para aceitar o convite de Pedro Proença para, se for eleito, liderou o órgão consultivo da FPF e para fazer parte da Comissão de Honra da candidatura. Segundo a autarca, a sua missão será estabelecer uma relação mais próxima com os adeptos, com os atletas dos países de língua oficial portuguesa, mas também dirigir o foco para o futebol feminino e juvenil.

Tudo isto, afirma, será feito sem que exista qualquer tipo de incompatibilidade com a sua vida autárquica que termina em Outubro deste ano – está a cumprir o último mandato. “Também já fez parte do Conselho Superior do Futebol Clube do Porto [até Abril de 2024]”, justifica, sublinhando a semelhança das funções que irá assumir se Pedro Proença para eleito.

O presidente da Câmara do Porto tem a certeza de que não existe qualquer incompatibilidade na acumulação das duas funções. E, sobre uma troca de terreno municipal realizada no passado que beneficiou a LFPF liderada por Proença, a autarca considera também não haver qualquer conflito de interesses, algo que não é consensual.

Em Outubro de 2020, a Assembleia Municipal do Porto aprovou, com abstenção do PAN e com o voto contra da CDU, a troca da antiga sede da LPFP, inaugurada em 1995 na zona da Constituição por Valentim Loureiro, por um terreno na freguesia de Ramalde , onde está a atual, inaugurado em Dezembro do ano passado. Rui Sá, representante da única força política que votou contra a proposta, contactado pelo PÚBLICO, justifica o seu sentido de voto na altura: “Foi um mau negócio para a câmara e acho até que está ferido de alguma ilegalidade, sendo que a Liga dá à câmara algo que pertence à câmara se a Liga deixasse de lá ter a sua sede”.

“Mau negócio para a câmara”

Em 1999, recorda o líder da bancada municipal da CDU, uma câmara passou para a LPFP a posse da antiga sede, mas “com direito de reversão caso deixasse de cumprir a função”. Por isso, considere que a autarquia saiu lesada dessa permuta. Segundo a sua leitura, não seria preciso trocar o edifício avaliado em 2 milhões de euros por outro avaliado em 2,8 milhões, onde está a nova sede, em Ramalde. Esquecendo essa cláusula de reversão, Rui Sá afirma que a autarquia ficaria com um saldo de “800 mil euros”, mas prescindiu esse valor para apoiar a Liga, que também ficou “isenta de todas as taxas urbanísticas”.

O comunista sublinha não ter votado contra a construção de uma nova sede para a LPFP, mas sim contra a permuta. E assinala agora, anos mais tarde, o reencontro entre as partes envolvidas. “Não posso deixar de achar curioso que agora Pedro Proença convide Rui Moreira e não entenda bem porque é que o presidente da câmara deve fazer parte de um órgão consultivo desportivo”, afirma, salientando a “coincidência de ter sorte esse negócio”.

“Não fiz um negócio com o Pedro Proença. A Câmara Municipal do Porto fez uma transação com a Liga de Futebol. O fato de ser o Pedro Proença ou outra pessoa não me inicia de forma alguma. Aqui não há conflito de interesses nenhum”, afirma Rui Moreira, que assumirá a carga na federação “sem qualquer vencimento” e, sublinha, sem quaisquer dúvidas: “Onde me sentiria mesmo inibido seria se tivesse qualquer relação que fosse com a Liga Portugal porque houve uma permuta”.

Sobre a acumulação de cargos com a Câmara do Porto afirma: “Se não surgir nenhuma alteração de carácter pessoal ou de saúde ficarei até ao último dia e quero dar posse ao meu sucessor, seja ele quem for.”

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