Sexta-feira, Setembro 20

Audição de Carla Silva está marcada para as 15:00 e será por videoconferência, embora apenas seja ativado o áudio, de modo a preservar a identidade da antiga secretária de Lacerda Sales

As declarações contraditórias de Lacerda Sales e a sua antiga secretária, chamaram a atenção assim que o relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) veio a público. Afinal, Carla Silva enviou ou não um e-mail ao Hospital de Santa Maria a pedido do ex-secretário de Estado e da Saúde?

“Esta é uma das audições mais importantes. É a que permite perceber qual o papel da secretaria de Estado da Saúde junto do Hospital Santa Maria”, começa por nos dizer Joana Mortágua, coordenadora do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda nesta CPI.

A audição de Carla Silva, que irá decorrer sem a presença da imprensa, é vista pelos deputados que compõem a comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas tratadas com o medicamento Zolgensma como uma das mais importantes até agora. “Está no top cinco”, adianta Joana Cordeiro. 

“Através da CPI temos acesso ao depoimento de Carla Silva à IGAS, a curiosidade agora é se vai dizer o mesmo na CPI e se vai confirmar que marcou a consulta a pedido de Lacerda Sales tendo falado com Nuno Rebelo de Sousa”, adianta a coordenadora do grupo parlamentar da Iniciativa Liberal, que considera que  a antiga secretária pessoal de Lacerda Sales tem agora de “explicar” as contradições face ao discurso do antigo secretário de Estado da Saúde e tudo o que está na origem da marcação da consulta das bebés no Hospital de Santa Maria, que, como relata do relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), aconteceu após um encontro de Lacerda Sales com Nuno Rebelo de Sousa e também depois da troca de correspondência e chamadas entre o filho do Presidente da República e Carla Silva.

O papel de Nuno Rebelo de Sousa é, aliás, um “outro ponto de grande interesse” nesta audição, continua Joana Mortágua, referindo-se aos contactos “entre Carla Silva e o doutor Nuno Rebelo de Sousa, que foram alguns e há e-mails trocados entre ambos e essa relação e o que foi falado entre eles é o que importa saber”. A coordenadora do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda nesta CPI crê que “há outras ligações que seria importante perceber” nesta audição, sobretudo no que diz respeito “à forma como Nuno Rebelo de Sousa se constituiu, ao longo do tempo, ou não como facilitador de negócios à boleia de boas relações com Presidência da República e instituições portuguesas”.

Antes de chegar aos gabinetes do governo do PS, Carla Silva esteve por três vezes no Hospital de Santa Maria, com passagens pelo conselho de administração e também pelo serviço de pediatria onde as gémeas foram tratadas, como noticiou o Exclusivo da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), que revelou ainda que é neste mesmo hospital que Carla Silva atualmente trabalha.

E este é mesmo o primeiro ponto em que Inês Sousa Real toca em conversa com a CNN Portugal. Para a deputada única do PAN, o partido pretende “tentar perceber” não só o “passado profissional” de Carla Silva no Hospital Santa Maria, mas também “a sua ligação com a médica Teresa Moreno”, médica que tratou das crianças no hospital público e com quem mãe das crianças, antes de serem tratadas no Santa Maria, queria marcar uma consulta no Hospital Lusíadas, tendo contacto por email o diretor da Lusíadas, como revela o relatório da IGAS.

Inês Sousa Real considera esta audição também “importante”, pois poderá ajudar a perceber “se foram aplicados mecanismos de prevenção de conflito de interesses” uma vez que Carla Silva já tinha sido funcionária do hospital onde as gémeas receberam o medicamento mais caro do mundo. Além disso, continua, o PAN quer também “o procedimento interno do gabinete” de Lacerda Sales, incluindo como eram feitos os contactos “externos”, se por telefone, e-mail ou até WhatsApp.

Cristina Rodrigues, do Chega, foca-se no facto de haver “um contraditório que tem de ser feito”, uma vez que “a duas posições”, a de Carla Silva e de Lacerda Sales, “não são de todos conciliáveis e não é possível serem as duas verdadeiras” e, por isso mesmo, considera que esta “é uma audição fundamental”. À CNN Portugal, a deputada do Chega defende ainda que é importante “perceber o que [Carla Silva] tem a dizer, qual a sua posição”, vincando que os elementos da CPI têm de “ficar convencidos de uma delas”, ou a sua ou a do antigo secretário de Estado da Saúde, até para, adianta, perceber o que fez os inspetores do IGAS “acreditar mais na versão de um do que do outro”, algo que diz que também será tirado a limpo, “a seu tempo”, quando os investigadores forem ouvidos na CPI.  Sobre estas contradições, Inês Sousa Real realça que é também “importante perceber se não há aqui alguém que esteja a ser o elo mais fraco”, referindo à possibilidade de haver “pressões” hierárquicas.

Uma vez que “a contradição entre as declarações do doutor Lacerda Sales e a sua ex-secretária são públicas”, o coordenador do grupo parlamentar do Partido Socialista não crê que algo vá “evoluir” com esta audição. “Se evoluir é porque Carla Silva vai recuar no que disse”, atira João Paulo Correia.

Carla Silva é ouvida esta sexta-feira às 15:00, numa audição onde irá apenas ser emitido o seu áudio, preservando-se assim a identidade da antiga secretária de Lacerda de Sales, que tinha pedido uma audição à porta fechada sob o regime de proteção de testemunhas, pedido que foi declinado pela CPI.

A CNN Portugal tentou entrar em contacto com o PSD, CDS e Livre, mas não obteve resposta em tempo útil. O PCP não quis fazer qualquer antevisão.

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