Quinta-feira, Setembro 12

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão continua a ser o problema de saúde mais prevalente em toda a União Europeia, afetando cerca de 50 milhões de pessoas. Portugal, onde cerca de 8% da população está diagnosticada com esta perturbação, ocupa a quinta posição entre os países com mais casos. 

 

Múltiplas entidades governamentais, e não só, têm aplicado medidas para melhorar as estatísticas e, por exemplo, arrancou este ano em território nacional o CRI (Centro de Responsabilidade Integrada) para a saúde mental. É um projeto integrado em 15 unidades locais de saúde e que se estreou na capital.

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Estes centros têm como objetivo garantir que os tempos máximos de resposta garantidos para acesso a consultas de saúde mental no Serviço Nacional de Saúde (SNS) são cumpridos. Foram criados depois de um relatório, onde a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) concluiu que mais de metade dos casos de psiquiatria “muito prioritários” tinham tempos de espera acima do recomendado. 

Tendo isto em conta, o Lifestyle ao Minuto falou om Ana Matos Pires, uma psiquiatra e membro da Coordenação Nacional das Políticas de Saúde do Ministério da Saúde, sobre os fatores que levam ao aumento dos casos de depressão, mas também sobre os CRI e a sua importância. 

O desemprego, a pobreza, as guerras e a própria pandemia são fatores que contribuem para o aparecimento de quadros depressivos

Que fatores têm contribuído ao longo das últimas décadas para o aumento significativo dos casos de depressão?

Perturbações depressivas são diversas e sempre multicausais. Sabemos que entre os fatores de risco estão, além da vulnerabilidade individual, aspetos relacionados com os envolventes familiares, sociais e económicos. Deste modo, é seguro afirmar que aspetos como o desemprego, a pobreza, as guerras e a própria pandemia são fatores que contribuem para o aparecimento de quadros depressivos, que podem ir desde reações de adaptação com humor depressivo até quadros clínicos mais graves, como a perturbação depressiva ‘major’.

Trata-se de um problema muito comum em território nacional. Que fatores o justificam? 

O último estudo epidemiológico tem mais de 10 anos e este assunto não está completamente esclarecido. Sabemos, no entanto, que o desinvestimento crónico na prevenção da doença e o acesso difícil a cuidados de qualidade contribuem para as taxas de incidência e prevalência das perturbações depressivas, e de outras perturbações mentais, no país. Modificar este estado de coisas é uma prioridade  para a Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental e faz parte da Reforma da Saúde Mental que está em curso.

Que mitos ainda existem sobre depressão e devem ser esclarecidos?

O principal, do meu ponto de vista, é que se trata de uma questão de “fraqueza”, que estar ou não deprimido depende do próprio. É absolutamente falso, se assim fosse a depressão não existiria.

Um segundo mito, de certo modo ligado ao anterior e muito preocupante, é a ideia de que não existem tratamentos. É falso, as abordagens farmacológicas e psicoterapêuticas são eficazes e a resposta para o tratamento da perturbação depressiva. 

Que tipo de ajuda deve procurar uma pessoa com depressão?

A que qualquer um de nós procura quando estamos doentes, procurar ajuda clínica de forma a que se possa fazer o diagnóstico correto e, consequentemente, a instituição da estratégica terapêutica mais adequada para o caso.

Nunca, mas nunca mesmo, usar frases do tipo ‘isso passa’, ‘tens de ter força’, ‘isso é só uma coisa da cabeça’, ‘esquece isso e avança, só depende de ti’

Como é que os amigos e a família podem ajudar? 

Reconhecendo o sofrimento e a disfuncionalidade que a doença depressiva determina, não os ignorando nem desvalorizando e, sobretudo, fomentar a procura de ajuda. Nunca, mas nunca mesmo, usar frases do tipo “isso passa”, “tens de ter força”, “isso é só uma coisa da cabeça”, “esquece isso e avança, só depende de ti”.

Qual é o conceito dos novos CRI (Centro de Responsabilidade Integrada) para a saúde mental? Para que servem?

Os CRI são estruturas orgânicas de gestão intermédia, que visam potenciar os resultados da prestação de cuidados de saúde, melhorando a acessibilidade dos utentes e a qualidade dos serviços prestados, aumentando a produtividade, a eficácia e a eficiência dos recursos aplicados e contribuindo para elevar o nível de satisfação dos utentes e dos profissionais do SNS.

São constituídos por equipas multiprofissionais, que voluntariamente se propõem a aderir a este modelo de organização, detentores do perfil adequado em função do respetivo plano de ação, organizadas de forma flexível, em função da realidade concreta de cada entidade do SNS e das necessidades em saúde que visam satisfazer.

Os CRI dispõem de autonomia organizativa e técnica, integrando-se numa lógica de trabalho em rede com outros serviços da entidade do SNS onde se integram.

Compete ao Conselho de Administração (CA) da respetiva ULS aprovar a criação do CRI e nomear os respetivos profissionais.

Qual será o impacto desta novidade? 

O principal objetivo é melhorar a acessibilidade e a prestação de cuidados nos domínios da promoção da saúde e prevenção e tratamento da doença mental. Este propósito está em plena consonância com o Plano Nacional de Saúde Mental e com as diretrizes do Comprehensive Mental Health Action Plan 2013-2030 da Organização

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