Segunda-feira, Outubro 28

Luís Marques Mendes, antigo líder do Partido Social Democrata (PSD), defendeu, este domingo, que “o que interessa” no caso da morte de Odair Moniz, baleado por um agente da Polícia de Segurança Pública (PSP),  são “os factos e as provas”, considerando que é necessário aguardar pelas conclusões da investigações em curso e criticando partidos como o Bloco de Esquerda (BE) e o Chega pelo seu posicionamento no caso. 

 

No seu habitual espaço de comentário, na SIC, Marques Mendes começou por lamentar o que adjetivou de “tragédia”, deixando uma “palavra muito solidária de apoio” à família e amigos de Odair Moniz, morador no Bairro do Zambujal. 

Posteriormente, destacou a importância de esperar pelas investigações em curso e deixou as primeiras críticas aos partidos que se posicionaram. 

Cada um de nós pode ter a nossa convicção, mas o que interessa são os factos e as provas. Vamos aguardar e esperemos que seja uma conclusão rápida e, sobretudo, que seja justa“, sublinhou. 

“O que eu acho péssimo é colocar o carro à frente dos bois. Devo já dizer, acho que o comportamento do Chega é pior de todos, mas o Bloco de Esquerda também não me parece que tem andado muito bem, a considerar, logo no início, que isto é uma atitude de racismo. Não sei se é ou não é. As autoridades dirão”, criticou. 

O antigo líder social-democrata considerou ainda que o caso da morte gerou uma “violência sem explicação”, que “não tem desculpa possível”, numa referência aos distúrbios vividos nos últimos dias. 

Não não são protestos, são crimes. Protestos foi aquilo que aconteceu ontem em Lisboa e isso sim merece uma saudação. Uma manifestação de milhares de pessoas, Vida Justa, em que as pessoas de uma forma cívica, serena, tranquila, sem violência, mostraram a sua revolta, a sua indignação, a sua homenagem e a sua solidariedade. Isso é que é o correto em democracia”, sublinhou. 

Ainda sobre os tumultos, o comentador considerou que a percepção pública nos primeiros dias é de que “o Estado falhou.” “Nos primeiros dois dias, entre segunda e quarta-feira, a ideia é que o Estado falhou e que as força de segurança não foram eficientes, nem na ação, nem na comunicação. Isso não é bom para o Estado de Direito. As pessoas precisam de ver nas forças de segurança um referencial de prestígio, de eficiência, de credibilidade“, apontou.

Declarações de Ventura e Pedro Pinto? “É a indecência institucionalizada”

Voltando à componente política, Marques Mendes afirmou que a “política também ajudou a incendiar um pouco a situação”.

A maior parte dos partidos agiu bem, com sentido de responsabilidade. Desde logo, por exemplo, o PCP. Muito institucional, muito correto, não estando a antecipar-se às autoridades”, elogiou.

Voltando a apontar na direção do BE, Marques Mendes reiterou que “não se pode tirar, por antecipação, consequências e conclusões”. “Não é correto um partido, um politico, um dirigente, um cidadão, substituir-se as autoridades”, frisou.

Mas, para o comentador, “o mais grave de todos é o Chega”, nomeadamente as declarações feitas pelo líder parlamentar do partido, Pedro Pinto.

As declarações do líder parlamentar do Chega a dizer ‘a polícia até deve matar mais para repor a ordem’, eu acho isto uma coisa do outro mundo. Eu acho que isto não se diz nem à mesa do café, nem na taberna, nem a brincar. Muito menos na televisão, por parte de um deputado e de um dirigente político. Isto, no plano pessoal, humano, é a indecência institucionalizada. E, no plano político, isto é piromania política. Isto não é aceitável. É absolutamente inqualificável”, criticou.

Sobre a queixa-crime promovida por um grupo de cidadãos contra Pedro Pinto, mas também contra o presidente do Chega, André Ventura, por estas declarações, o social-democrata considerou que a Procuradoria-Geral da República “cumpriu o seu dever de abrir um inquérito”. 

“Ventura veio fazer-se de vítima (…) mas ele não tem grande autoridade para falar nesta matéria”, disse. “Ventura põe processos às outras pessoas e queixa-se que haja um inquérito sobre ele? Não vale a pena fazer-se de vítima porque isto não cola“, atirou.

Ainda em referência ao Chega, defendeu: “Mais importante do que uma sanção nos tribunais, é uma sanção na sociedade, sanção cívica e política, porque este tipo de declarações não são minimamente aceitáveis em políticos e em cidadãos decentes”

“Não tivemos ministra da Administração Interna durante os fogos e tivemos muito pouco agora”

Por fim, o antigo líder do PSD disse que é necessário refletir “sobre a segurança”, sobretudo nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, mas também sobre a “integração social, a coesão social”, especialmente em “alguns bairros nestas áreas” e apontou o dedo a Margarida Blasco, ministra da Administração Interna.

“Não tivemos ministra da Administração Interna durante os fogos e tivemos muito pouco agora. Faltou liderança”, rematou. 

Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, foi baleado na madrugada de segunda-feira, no Bairro Cova da Moura, também na Amadora, no distrito de Lisboa.

Segundo a PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.

A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria e isenta” para apurar responsabilidades, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias. A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.

Esta semana registaram-se tumultos no Zambujal e noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados e vandalizados autocarros, automóveis e caixotes do lixo, somando-se cerca de duas dezenas de detidos e outros tantos suspeitos identificados. Sete pessoas ficaram feridas, uma das quais com gravidade.

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