Quinta-feira, Outubro 24

‘O que faz falta. 50 anos de arquitetura portuguesa em democracia’ é uma “primeira leitura” do acervo da Casa da Arquitetura — Centro Português de Arquitetura, e do espólio de outras instituições, como a Fundação Instituto Marques da Silva e a Fundação Calouste Gulbenkian, engloba 49 obras e um projeto de vários nomes da arquitetura portuguesa, 39 maquetes originais, 407 desenhos – dos quais 119 também são originais -, 274 fotografias, cinco vídeos e duas instalações, mas “é mais do que uma mera exposição sobre arquitetura ou arquitetos”.

 

“É uma leitura que podemos fazer do contributo que os arquitetos deram para o processo de democratização. Se hoje nós temos um Portugal democrático com acesso à Saúde é porque houve a construção de Centros de Saúde, de Hospitais; se temos acesso a uma escola pública, [é] porque houve construção de escolas”, explicou o editor executivo da Casa da Arquitetura, Nuno Sampaio, à margem de uma visita de imprensa àquela exposição.

Segundo o arquiteto e curador do Programa Paralelo da exposição, a mostra reflete como “os princípios de Abril se formalizaram com o trabalho dos arquitetos”.

“É essa reflexão que nós queremos trazer, o contributo dos arquitetos não só no período revolucionário, mas em todo o processo democrático”, salientou.

Ao longo da nave da Casa da Arquitetura, dividida em “arquipélagos em que cada uma das ilhas é uma obra”, a exposição está dividida em cinco partes temporais – Revolution (1974-1983), Europa (1984-1993), Fin de Siécle (1994-2003), Troika (2004-2013) e Wi-Fi (2014-2023) -, antecedidas de um ‘Before’, que evoca a repressão através de trechos escritos pelas ‘Três Marias’ (Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, “Novas Cartas Portuguesas”, 1972), e que terminam num ‘After’, concretizado pelas obras de Sandra Pulson e Sérgio Rebelo.

“O Revolution parece óbvio para a primeira parte. Depois a Europa, que é o otimismo, o Fin de Sciécle é a dúvida, a Troika é o pessimismo e acaba nos desafios dos nossos dias, naquilo que ainda está em aberto”, explicou o arquiteto Jorge Figueira, que assume a curadoria da exposição, com a também arquiteta Ana Neiva, curadora-adjunta.

E continuou: “Além das obras, quisemos anexar, convidar, articular ou dialogar com objetos que não são da arquitetura, que são do cinema, que são da literatura, que são da televisão, porque a nossa visão da arquitetura e desta exposição não é meramente disciplinar, não é meramente para ver desenhos originais, embora haja muitos”.

A cada uma das épocas corresponde uma campânula, com luz e som próprio, que envolve fotografias, vídeos e põe em evidência personagens “aparentemente contrastantes”, como Agustina Bessa-Luís, António Variações, Herman José, Ronaldo, Sara Sampaio, Miguel Esteves Cardoso, Eduardo Prado Coelho, entre outros nomes da vida portuguesa, e onde se podem ouvir reportagens da RTP dos anos 1990 ou o genérico da emissão de um Festival da Canção, algures nos anos 1980.

O número de obras por cada uma das épocas não é igual, “acompanha o crescimento” da Arquitetura em Portugal: “Há uma progressão aritmética. Começamos com seis projetos, passamos para oito, depois para 10, 12 e 14, uma espécie de corrente que se vai ramificando, permitindo introduzir mais obras e arquitetos, o que também reflete a realidade de que há mais arquitetos e mais obras, há mais Arquitetura”, apontou Jorge Figueira.

Quanto às obras em exposição, “algumas, toda a gente vai conhecer”, enquanto outras são desconhecidas. “Há obras obrigatórias. Não podíamos anular ícones da Democracia”, como a Câmara de Matosinhos e projetos habitacionais do antigo Serviço de Apoio Ambulatório Local. “Mas também há obras que as pessoas vão ter de procurar para perceber o que é que são, porque são bastantes desconhecidas ou, pelo menos, não estão nos manuais”, disse o curador.

Além da exposição, “O que faz falta. 50 anos de arquitetura portuguesa em democracia” tem mais dois momentos: um Programa Paralelo, que “pretende interrogar o Portugal atual e debater o Portugal vindouro”, e um livro, que “será muito mais do que um mero catálogo”, incluindo ensaios de diversas figuras de áreas disciplinar diversas.

Em exposição estão desenhos, fotografias e maquetes de obras como a Igreja de Santa Joana, os bairros da Bouça e Casal das Figueiras, o Museu dos Vinhos, o Complexo das Amoreiras, a cooperativa de Aldoar e de Massarelos, o Pavilhão de Portugal na Expo 98, o Estádio de Braga, o Metro do Porto, o Museu do Côa, o Teatro Azul – Teatro Municipal Joaquim Benite, o Museu Nadir Afonso, o Mercado do Bolhão e a Adega 23.

O título da exposição, segundo a Casa da Arquitetura, homenageia uma das figuras de Abril, José Afonso, e a canção ‘O que faz falta’, do álbum ‘Coro dos Tribunais’, publicado no final de 1974.

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