Quinta-feira, Janeiro 9

Eça de Queiroz e Uma Campanha Alegre

Na trasladação dos restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional, eu, um dos admiradores do que é considerado um dos maiores escritores portugueses, questiono-me sobre a razão de, nas biografias deste mestre da literatura, ser dada pouca relevância à sua qualidade inigualável de cronista, isto pela ironia das suas crónicas reunidas na sua Uma Campanha Alegreum dos meus livros de cabeceira.

Dos seus romances mais destacados, em nossa opinião, o Crime do Padre Amaro foi uma obra muito avançada para a sua época, Os Maias é ou foi de leitura obrigatória no ensino, mas o seu romance mais satírico, O Conde d’Abranhosnão é citado com a relevância que merece e, esse sim, deve ser de leitura nas escolas.

Mário dos Santos, Tomar

Eça no Panteão, uma queirosiana gargalhada…

Nós, poderes públicos e afins, adoramos bajular, cheirar o rasto das nossas celebridades. Sobretudo quando elas merecem todas as honrarias deste mundo por omnia saecula saeculorum. Umas tantas discursatas, umas fundações, uns subsídios… Uns portos de honra, umas tantas vénias, cheias de hipocrisia convencional, umas continências enfatuadas, uns salamaleques cheios de cinismo, purificados com bandeira e hino.

Felizmente, o nosso Eça não precisa deste cortejo de cínicas irrelevâncias e de pilhérias grotescas. Eça entrou há muito no Olimpo dos Deuses, com pompa e circunstâncias celestiais, em apoteose e estardalhaço, ao som de fanfarra e do estrépito das tubas e trombetas da colossalidade barroca wagneriana, qual grandiloquente e solene Entrada dos Deuses no Walhalla! Lá no Assento Etéreo onde estiver, celebremos a cínica entrada dos seus ossos no panteãocom uma sarcástica e Jesus gargalhada, queirosiana!

Hélder Gomes, Odivelas

Assembleias Municipais: uma pura perda de tempo

No meu concelho (o cenário repetiu-se por muitos), os candidatos deram a maioria absoluta a um partido na votação para a câmara municipal, mas atribuíram a maioria aos partidos da oposição na eleição da assembleia municipal (AM). Quiserem escrutínio, vigilância, uma maioria de acção condicionada no que diz respeito às deliberações que estruturam a vida municipal. Tudo estaria certo. Mas eis que chegam os presidentes das juntas de freguesia, membros da AM “por inerência da carga”.

Não têm qualquer legitimidade política para ali estarem, não foram eleitos pelos cidadãos do concelho para ali estarem, foram eleitos por parcelas muito pequenas de cada município para a função de autarcas da sua freguesia e fazer parte deste órgão (AM) devido a uma aberração jurídica -legal herdada da confusão legislação eleitoral pós-revolução. Como elos fracos da cadeia, são sempre submissos e manipulados pelos executivos municipais, que os utilizam a seu bel-prazer para ampliar maiorias ou transformar minorias em maiorias nas AM. Os presidentes das juntas nas AM desvirtuam o sentido do voto popular, falsificam na prática o resultado do voto popular para as AM. Imagine-se 308 presidentes de câmara, “por inerência do cargo”, sentados na Assembleia da República. Tecnicamente, é a mesma coisa. Já era tempo de acabar com isso.

João Carlos Lopes, Torres Novas

Hospitais privados, inquérito urgente

Fala-se muito, e bem, sobre o SNS e da quase impossibilidade de resolver o estrangulamento dos serviços e dos tempos para se ser atendido e da falta de médicos e de pessoal auxiliar.

Ensaiam-se modelos de gestão, passam governos e ministros. Ideologia para cá, ideologia para lá. Parece que tudo se resume ao salário do pessoal de saúde. Mas não vejo notícias nem reportagens sobre os hospitais privados, os tempos de espera e o tipo de atendimento, o valor pago aos profissionais e o custo para os doentes. Sabemos todos que perante uma doença grave é ao SNS que vamos recorrer porque é mais fiável e porque o valor a pagar [no privado] é de milhares de euros mesmo com seguros, que pouco cobrem em muitos casos.

Não seria importante e urgente fazer essas reportagens e noticiar para esclarecer o que se passa e como proliferam e lucram essas instituições de saúde? Este será com certeza um bom meio para avaliar e defender um dos valores mais importantes que o 25 de Abril nos deu – o SNS.

Heitor Ribeiro, Massamá

Compartilhar
Exit mobile version