Quarta-feira, Janeiro 8

Nova lei dos solos

O impacto da nova lei dos solos na dispersão das cidades portuguesas tem sido subestimado no debate público. Um tecido urbano disperso e de baixa densidade acarreta consequências: dificulta a implementação de redes de transporte público eficientes, promove a dependência do automóvel (intensificando o congestionamento) e aumenta custos de infra-estruturas essenciais, como transporte, saneamento e energia.

Muitos municípios têm reconhecido este problema e iniciaram esforços para tratá-lo, integrando criteriosamente urbanizações periféricas no tecido urbano das cidades e combatendo a urbanização dispersa e de baixa densidade através de mecanismos legais como o PDM e a anterior lei dos solos. A nova lei dos solos, ao permitir a construção em terrenos rústicos, vem agora comprometer estas iniciativas. Esta flexibilização equivale a um cheque em branco com potencial para transformar Portugal numa extensa periferia urbana, agravando os problemas já divulgados e ameaçando o bem-estar de todos.

Miguel Delgado, Berlim

Habitação e corrupção

Um problema social inegável resultante da possibilidade de conduzirmos de forma perigosa. Com esta hipótese, imaginamos que qualquer governo imponha para qualquer mudança a aprovação prévia do plano de viagem. Evidentemente isto seria uma loucura, a circulação ficaria comprometida, e logo haveria quem desse um “jeito” para acelerar o licenciamento, que seria uma nova e excelente oportunidade para aumentar a corrupção.

A aplicação das regras de trânsito é da responsabilidade dos condutores, limitando-se o Estado a verificar se são ou não cumpridas, aplicando sanções aos prevaricadores que possam levar à perda da carta de condução. Pois no caso de licenciamento à habitação existe, tal como no Código de Estrada, um conjunto muito detalhado de regras (RJUE, RGEU e RECS), que os profissionais que subscrevem o projecto conhecem e têm de conformidade.

Para licenciar um projeto ao Estado e ao poder local, deveria bastar verificar um número restrito de questões essenciais, responsabilizando os técnicos credenciados pelo cumprimento das normas, com consequências pesadas como a perda da carteira profissional. Mas não, exige-se a verificação burocrática de um projeto complexo e detalhado; os licenciamentos ficam muito caros, arrastam-se por meses ou anos, e a possibilidade de dar um “jeito” ou acelerar o processo é um terreno fértil para a corrupção.

Pois, agora, para aumentar a oferta de habitação, em vez de enfrentar a teia de interesses políticos, profissionais e burocráticos que tornam a iniciativa de construção de um calvário, o Governo avança com a possibilidade de converter terrenos rústicos em zonas urbanizáveis, tornando ainda mais arbitrária a valorização especulativa do solo. Um festival para os corruptos!

José Cavalheiro, Matosinhos

Voltando ao salário dos políticos

O Presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, referiu-se ao tema do aumento do salário dos políticos no jornal Expresso (27 de Dezembro de 2024), afirmando, numa entrevista, que “é preciso valorizar a função política”. Em destaque na primeira página, o hebdomadário destacou uma afirmação de Aguiar-Branco em que se lia (cito): “Há uma discriminação inaceitável no salário dos políticos.” “Discriminação inaceitável.“Que exagero! É preciso ter topete para fazer uma afirmação deste jaez. Discriminações inaceitáveis ​​existem, vg, nos intervalos dos professores que não fornecem de subsídio de deslocação quando são colocadas centenas de quilómetros de casa, nem subsídio de alojamento. Discriminações inaceitáveis ​​existem nas reformas e pensões miseráveis ​​de um elevado número de portugueses.

Só quando existir verdadeira valorização de certas profissões e carreiras na função pública é que Aguiar-Branco poderá falar sobre aumento do salário dos políticos. Para além de um salário generoso, os políticos usufruem também de várias mordomias e subsídios para isto e mais aquilo. Haja pejo, Sr. Aguiar-Branco. Nunca vi político nenhum nem nenhum deputado empobrecerem (antes pelo contrário), enquanto muitos professores empobrecem pela razão que acima aduziu.

António Cândido Miguéis, Vila Real

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