Sábado, Janeiro 4

As casas devolutas

São mais de 700 mil casas vazias em Portugal. Um legado patrimonial e histórico em decadência devido à inação política e social. O prejuízo decorre do fato de os proprietários abandonarem estes espaços por longos períodos por diversas razões, questões de partilhas, negligência e especulação. Isto é possível devido à ausência de uma política fiscal que penalize severamente os impostos sobre o património devoluto. O valor dos impostos (IMI) não impede que imóveis importantes permaneçam durante décadas abandonadas.

Mesmo o recente aumento do valor do mercado não contribuiu a que casas devolutas, muitas situadas no centro histórico de Lisboa, Porto, Coimbra, Faro, etc., avaliadas em milhões de euros, foram transaccionadas e utilizadas para fins habitacionais, turísticos ou outros. Há que investigar e descobrir porque é que isto acontece. Há ainda um excesso de proteccionismo do direito individual a ter um imóvel habitável, mas fechado sem uso, muitas vezes em estado de ruína.

Em plena crise habitacional e social, acreditamos que a política se interessaria por este desafio, como trazer centenas de milhares de casas para o mercado. O actual Governo, tal como o anterior, decide-se por outra via: mais habitação nova, mesmo que em zonas até agora não urbanizáveis.

O prejuízo é incomensurável, milhares de milhões de euros perdidos na manipulação do património construído, mas devoluto, e uma ordem territorial à mercê da urgência da construção. Isto é num país que tem mais de 600 casas por cada mil habitantes, no topo da Europa e só atrás de França e Itália.

João Miguel Vaz, Figueira da Foz

Ninguém pára Israel?

Israel goza de uma posição no mundo a todos os títulos singulares: pode fazer tudo o que quiser em relação aos seus vizinhos, e mormente aos palestinos. Em nome de qualquer direito de defesa ou até de origem divina vale tudo: invadir, ocupar, torturar, matar.

Estou convencido de que os dirigentes de todos os países do mundo sabem o que se passa na Palestina; sabem-no os dirigentes da UE, dos EUA, do Japão, da Coreia do Sul; sabe-no os dirigentes da Rússia e da China; sabem-no os dirigentes do mundo árabe. Mas não se entende porque tão pouco o denuncia publicamente.

Não quero acreditar que não denunciem o massacre em curso na Palestina apenas para evitar que tal denúncia seja entendida como anti-semitismo. Serão anti-semitas o secretário-geral da ONU, o Papa e os presidentes da República da África do Sul e do Brasil, que tiveram a nobreza de o fazer? Para o Governo de Israel, são.

Não quero igualmente acreditar que fechar os olhos ao extermínio dos palestinos seja a melhor forma de conter a propagação do anti-semitismo. Este está a atingir proporções catastróficas. E os principais responsáveis ​​não são os críticos das atrocidades cometidas por Israel; são, sim, os responsáveis ​​por elas. Com Netanyahu à cabeça.

Entretanto, com a cumplicidade de grande parte dos dirigentes mundiais, Israel, à revelação de qualquer norma civilizacional, vai agir contra tudo e contra todos sem que ninguém lhe dê contas. A propósito: alguém pediu a Israel os nomes dos 40 bebés que dizem terem sido degolados pelo Hamas a 7 de Outubro de 2023? Ou será mais fácil para os palestinos fornecerem os nomes das mais de 14.000 crianças assassinadas pelas IDF? Pare Israel.

Luís Pardal, Lisboa

Adília Lopes, sempre

“É preciso pensar no dia de amanhã alegremente.” Assim escreveu Adília Lopes em Pardaisedição Assírio & Alvim. A autora de Quem quer casar com uma poetisa? e A pão e água de colónia é a prova de que uma mensagem para atingir o coração não necessita de muitas palavras. Escrever não é empilhar palavras. Carta a Meus Filhos sobre os Fuzilamentos de Goyade Jorge de Sena, é dos Poucos que pela extensão é estratosférico. O destino fatal dos poetas é serem cantados pelos poderes públicos após a morte. Em vida, o reconhecimento vem dos leitores fiéis. Uma palavra para Vasco Teixeira, que não tem deixado morrer as pequenas editoras abraçando-as na família Porto Editora. “Aprendo a escrever com os pardais.” Sempre, Adília Lopes.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

PÚBLICO errado

Conceição Melo foi identificada no artigo de opinião que publicou na edição impressa de anteontem como “presidente do conselho directivo da Ordem dos Arquitectos – Secção Regional Norte”, cargo que já não ocupa. A arquitecta Conceição Melo é hoje vice-presidente do Grupo Habitar – Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional. O PÚBLICO pede desculpa pelo erro ao autor e aos leitores.

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