Isto é uma cunha
Queria-vos pedir, antes que o ano acabe, para que nunca “se virtualizem”. Pelo menos enquanto eu ando por cá. Há muitos anos que compro o jornal PÚBLICO. Gosto de comprar. Se fosse virtual, tanto eu quanto o meu cardiologista que me recomendou uma caminhada matinal (dois quilômetros) para o ir comprar, ficaríamos muito tristes. Depois porque gosto de ler o que lá vem dentro. Umas [páginas] mais do que outras, claro. Era o que faltava gostar de tudo.
Ainda porque gosto do cheiro do papel. O cheiro da tinta. Nem desdenho de molhar uma vez por outro o dedo indicador na ponta da língua para folhear algumas folhas que saem agarradinhas das máquinas. Gosto de fazer o sudoku e, quando eu sai mal, até quero ver no dia seguinte, na correção, onde é que eu errei.
Não sei o orgulho que tenho quando entro no trem, onde toda a gente está a ler (?) o celular e eu a ler o jornal. Com tanta modernidade de “inteligência” virtual e artificial a crescer por aí, tenho medo que o PÚBLICO acabe também num ecrã de qualquer telemóvel. Por isso esta cunha. Desejo-vos a todos, os que o fazem, um próximo ano muito bom e em papel. Eu garanto que compro sempre.
José Rebelo, Caparica
A ampulheta do tempo
Lá se foi mais um ano, enquanto milhares de milhares o antecederam. Todavia, o homem atual vive o deslumbramento da passagem de ano, enquanto milhões vivem a desgraça de sempre: a língua de tudo, todos os dias. Para uns tantos é sempre um paraíso, rodeado de infernos mil para os mesmos desertos. O devorador do homem é o próprio homem, que o adula ou o mata. É a besta de todas as bestas.
Se o ano de 2024 se esgotou, o 2025 será mais um suspiro, doce ou intragável. Neste nosso país, chamado Portugal, as desigualdades continuam a crescer exponencialmente. Uns tantos continuam a ter tudo em demasia, enquanto o “rebanho” pastoreia os sobejos que restam essas mesas fartas, onde nada falta. Esperamos que a paz consiga emergir do mar de sangue de milhões de irmãos, que morreram e morrem sem saberem o porquê de tamanha carnificina. E que o sol volte a brilhar, trazendo a bonança para todos os oprimidos, para que qualquer guerra cesse de vez na Terra.
José Amaral, Vila Nova de Gaia
Balanço e projeções
O país é melhor. Os portugueses é que ainda não deram por isso. Os sinais exteriores de riqueza estão bem presentes aos olhos de todos. Só os cegos (os portugueses) é que não vêem. O Governo contratou “uma governanta” por 15.000 euros (até alterou a lei, para poder pagar). E poupou dinheiro (esta lógica não se aplica ao trabalho dos trabalhadores em geral). Os banqueiros arrecadaram lucros elevados este ano. Os hospitais privados são beneficiados com prejuízo dos serviços públicos. Para que isso fortaleça o Serviço Nacional de Saúde, se somos todos ricos? Há que apoiar uma iniciativa privada para enriquecermos ainda mais. E não esqueçam. Passeios só no Restelo na Quinta da Marinha e na Foz, pois assim evitarão ser encostados à parede pela polícia, o que é legal, mas desconfortável.
E se ainda não é rico, espere sentado. Não proteste. Tenha calma, que o Chico Buarque não tinha razão quanto cantou “está provado que quem espera nunca alcança”. Vai chover ouro. Um ano de 2025 cheio de “Propriedades”.
Fernando Vasco Marques, Várzea de Sintra
A ministra da Saúde deve demitir-se
A imperturbável ministra da Saúde, Ana Paula Martins (APM), anda às aranhas. Vive-se um verdadeiro caos nas urgências, com horas e horas para ser atendido (só quem necessita de ir às urgências pode relatar o caos que lá se vive). No SNS24 as pessoas desesperam pelo atendimento que está longe de ser rápido e eficaz. Pelo contrário. Quem ouve um ministra otimista parece que tudo está bem, a não ser —segundo APM – uns casos pontuais que vão surgindo, aqui e ali. Como é possível que a saúde em Portugal fique a piorar os olhos vistos? A ministra, APM, não consegue introduzir melhorias no sistema de saúde e há demissões nos serviços de urgência motivadas pela falta de condições nos hospitais para garantir os cuidados necessários à população, enquanto se acentua a falta de profissionais para garantir as escalas de trabalho. Mas há mesmo falta de médicos? Há falta de gestores competentes e sistemas de informação adequados? Há desorganização nos serviços? Parece que sim e a ministra não consegue inverter a situação.
António Cândido Miguéis, Vila Real