Ainda o ouro do Brasil
Que os brasileiros nas redes sociais o digam, até enjoaré uma coisa. Que o MEC o escreva, na sua coluna de opinião, é demais.
Não, o ouro que veio do Brasil não foi roubado. O Brasil, no século XVIII, era uma colónia de Portugal, situando-se no sistema colonial característico do Antigo Regime. Ou seja, na base da relação que Lisboa mantinha com o Brasil era o pacto colonial, pelo que as colónias deveriam servir os interesses da metrópole, especialmente na exploração de recursos naturais e no comércio.
Diz o Dicionário Aurélio que roubo é o “delito cometido por quem se apossa indevidamente de coisa móvel pertencente ao outro lado”. Agora, o ouro encontrado, minerado, exportado e comercializado sob controle da metrópole, no século XVIII, no Brasil, obtém a… Portugal. Ninguém pode roubar por si próprio.
Alexandre Monteiro, Lisboa
Estado do sítio?
Em muitas questões, a realidade e a sua percepção pela generalidade dos cidadãos são significativamente díspares. Entre essas questões, a segurança dos cidadãos está, nos dias que correm, na ordem dos dias. No editorial do PÚBLICO de ontem pode-se ler que o prestigiado Global Peace Index coloca Portugal entre os dez mais seguros países do mundo. Sabemos também que os turistas que nos visitam, quando questionados sobre a razão pela qual os fizeram escolher Portugal para as suas férias, referem-se amiúde precisamente a segurança do país como uma das mais importantes.
Contra esta realidade objetiva e facilmente escrutinável, levantam-se as vozes serôdias dos xenófobos e racistas na sua histérica e inflamada berraria anti-imigrantes. Agora Montenegro ofereceu-lhes a operação “mãos na parede” na Rua do Benformoso. Vão estar em algum tempo mais calmo, mas voltarão à carga mais dia, menos dia. Que irão então o primeiro-ministro? Declarará o estado do sítio? Mandará Nuno Melo procurar o Martim Moniz por tanques? Sobrevoar Lisboa por caças? Colocar corvetas em frente ao Terreiro do Paço?
Hélder Pancadas, Sobreda
Hospitais privados beneficiados, uma vez mais
É evidente que Luís Montenegro, com a anulação da norma em vigor desde a década de 90 que obrigava os hospitais privados a terem de pedir autorização para a compra de equipamentos pesados, está, obviamente, a favorecer as unidades hospitalares privadas. Como diz o povo, há muitas maneiras de matar pulgas, e esta nova regra de Luís Montenegro é, sem margem para dúvida, mais uma etapa para o enfraquecimento do SNS e o fortalecimento do setor privado da saúde. Podem todos os membros do Governo dizer o contrário mas, se analisarmos todas as medidas da ministra da Saúde e do primeiro-ministro, a começar pela forma como trataram Fernando Araújo, um dos homens que conseguiram que há mais de dez anos o Norte seja uma exceção ao caos verificado no Sul do país, chegamos à conclusão de que a finalidade mesmo não é valorizar todos os que trabalham no SNS, mas sim conseguir que os privados obtenham cada vez mais fortes à custa do enfraquecimento premeditado do SNS. Só não vê quem não quer.
Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora
Bofetada de luva laranja
A mensagem de Natal de Luís Montenegro faz lembrar o provérbio “preso por ter cão, preso por não ter”. Enumerar os feitos e efeitos da governança não é crime. A governação da AD, ao contrário do Governo de António Costa, foi a que mais cedeu nas reivindicações de diversos sectores da sociedade portuguesa. António Costa preocupado com as contas certas, tendo lançado a confusão ao ceder na solicitação do novo suplemento de missão à Polícia Judiciária. Com o horizonte bruxelense à vista, Costa sabia que isso seria rastilho para outros setores profissionais do Estado. Não votei AD, mas reconheço que Montenegro deu uma bofetada de luva laranja ao apoiar a candidatura de Costa ao presidente do Conselho Europeu.
Ademar Costa, Póvoa de Varzim
Acordo Mercosul-UE
Importar alimentos mais baratos pode numa fase inicial abaratar a cesta do consumidor europeu, mas rapidamente arruinará muitos produtores locais. Após 25 anos de negociações, a UE e o Mercosul querem chegar a um acordo de livre comércio que nos vendem como algo de bom quando sobretudo beneficiarão várias multinacionais e uns grupos financeiros, os quais são na realidade aqueles que controlam as diretrizes económicas da UE.
Cautelará a UE os seus interesses ou resultará em déficit atrás de déficit como ocorre com o comércio com a China? A previsível ruína de parte do setor agrícola europeu afetará o crescimento do PIB em vários países, obrigando os seus governos a um ajuste fiscal, fazendo com que o abaratar da cesta do consumidor seja uma falácia? Quais são os climas?
Fernando Ribeiro, S. João da Madeira