Sexta-feira, Dezembro 27

Com um portfólio de iniciativas ambientais extensas, a cidade de Guimarães foi reconhecida como Capital Verde Europeia 2026. Não foi a primeira vez que o município tentou alcançar o galardão. Em 2016, a cidade que nasceu Portugal apresentou a primeira candidatura, tendo ficado em quinto lugar entre as 13 cidades concorrentes. O município tentou de novo ser o eleito em 2025, mas acabou por perder para Vílnius, capital da Lituânia. Chegou agora à sua vez.

A cidade portuguesa coincide com as cidades de Heilbronn, na Alemanha, e Klagenfurt, na Áustria. Após ter ultrapassado diversas fases, o júri destacou Guimarães pelo seu desempenho “excepcional” em sete parâmetros ambientais: qualidade do ar; ruído; água; biodiversidadeáreas verdes e uso do solo; resíduos e economia circular; alterações climáticas: mitigação; e alterações climáticas: adaptação.

“O olhar da Europa para o que Guimarães está a fazer e vai fazer com o programa que vai apresentar em 2026, essa atenção e visibilidade são muito importantes”, refere Domingos Bragança, presidente da Câmara Municipal de Guimarães, ao PÚBLICO. Desde que chegou ao cargo, em 2013, o presidente e a sua equipa têm definido como políticas ambientais como um dos pontos cardeais da sua governança, assegura.

“Para nós, este prêmio é muito importante porque já há uma dezena de anos que estamos seguindo este caminho da sustentabilidade ambiental com uma agenda intensa e transversal”, comenta o presidente.

Caminhada pela sustentabilidade

Guimarães tem trabalhado em diversos projetos ambientais para adaptar uma cidade histórica, com quase 900 anos, aos novos desafios ambientais. “Temos uma estratégia holística”, explica o presidente da autarquia, referindo vários pontos de trabalho como a qualidade do ar, da água e dos rios, a descarbonização da cidade, a circularidade da economia com a aposta em reutilização de materiais-primas, a biodiversidade, as tecnologias digitais e a inteligência artificial, entre outros.

Um dos projectos que se destacam é a Horta Pedagógica de Guimarães, localizada na Veiga de Creixomil, um projecto de agricultura urbana com mais de 15 anos de existência que garante o contacto entre a população, a agricultura e a alimentação. No Dia do Pinheiro, que se celebrou na sexta-feira, um agricultor que não se quis identificar estava a apanhar grelos para levar para o jantar festivo. Uma caminhada até à horta faz-se entre a natureza, pela Ecovia de Guimarães, que liga a cidade a Fafe, na zona Leste, e os terrenos agrícolas da Veiga de Creixomil, na zona Ocidental, totalizando 17 quilómetros de percurso.

Agricultor “urbano” candidatou-se a dois lotes na cidade de Guimarães
Tiago Bernardo Lopes

Domingos Bragança destaca ainda a necessidade de existirem mais “espaços verdes” na cidade, para além de se continuar a investir no “inventário de toda a fauna e flora de Guimarães” e na identificação das espécies em perigo. Crescente ainda a união com a comunidade educativa e escolar, no sentido de “envolver a comunidade” e apostar na “alfabetização ambiental e ecológica”.

No Dia do Pinheiro, celebrado a 29 de Novembro, Centenas de pessoas reuniram-se no centro de Guimarães para assistir à parada das crianças. Uma delas foi Joaquina Ferreira, de 66 anos, que ficou feliz por saber que a “sua terra” foi reconhecida internacionalmente. No entanto, retirar os carros do centro histórico e torná-lo 100% pedonal, uma medida em discussão na Câmara Municipal de Guimarães, não agrada ao vimaranense. “Eu acho que a cidade está a fazer esforços para ser mais sustentável, mas não acho muito bem [quererem tirar os carros do centro]porque as lojas vão sofrer”, acrescentava, enquanto procurava o seu neto entre as várias crianças.

Jaime Cardoso, que também assistiu ao desfile, lamentou a perda dos jardins no centro histórico, que considerava “um dos mais bonitos da cidade”, e criticou a câmara municipal pela decisão de colocar calçada portuguesa no Largo do Toural. “Está a faltar verde aqui. Há um pouco lá em baixo [no Largo da República do Brasil]mas se metessem mais aqui dava uma vista fantástica”, acrescentou. “Deve haver um motivo para Guimarães ter sido escolhido, mas eu não vejo verde.”

Programa 2026: uma aposta na mobilidade e na monitorização das alterações climáticas

Um dos pontos em que a cidade de Guimarães tenciona investir com o apoio financeiro destinado aos vencedores do prémio é a transição para uma mobilidade sustentável. O presidente do município destaca a necessidade de adaptar uma cidade histórica à mobilidade urbana sustentável. Guimarães pretende ser uma cidade-piloto na transformação dos seus 40 hectares de património histórico numa área sustentável e 100% pedonal.

No dia 29 de Novembro, celebra-se o Dia do Pinheiro com desfiles
Tiago Bernardo Lopes

A cidade procura ainda uma maior aposta na investigação aeroespacial, não só no âmbito de ensino e investigação, mas também com o intuito de monitorizar as alterações climáticas através de satélites num projecto anunciado este ano em parceria com o CEiiA – o “Guimarães Space Hub” .

Uma outra preocupação surge da necessidade de apostar na circularidade dos produtos vimaranenses, em especial da indústria do têxtil e do calçado, que se destacam por não serem indústrias sustentáveis. Segundo a autarca, o objectivo é desenvolver a circularidade das matérias-primas, o que passa pela sua reutilização dessas matérias tão características do município.

Guimarães foi a segunda cidade portuguesa para obter o título de Capital Verde Europeia, depois de Lisboa em 2020. A “Cidade-Berço” tem agora a tarefa de dar continuidade aos projectos de revitalização da cidade, promovendo iniciativas no âmbito da neutralidade carbónica e apostando na manutenção da qualidade de vida dos habitantes, da biodiversidade e do território. A Comissão Europeia atribuiu 600 mil euros ao vencedor para melhorar a sustentabilidade ambiental da cidade.

“Um só planeta, uma só cidade”

Foi em Valência, em Espanha, que Guimarães recebeu o prémio, um local que acaba por trazer outro simbolismo à premiação após as cheias que assolaram a província no início do mês.

“Sentimos tudo. O desastre natural que Valência sofreu trouxe uma maior premência para a luta contra as alterações climáticas. Sabemos que não há outro caminho que não seja sustentável”, destaca Domingos Bragança. O presidente da câmara acrescenta ainda que as cheias de Valência trouxeram a necessidade urgente de se pôr em prática novas políticas ambientais nas cidades para mitigar os efeitos da crise ambiental.

Câmara de Guimarães foi eleita Capital Europeia Verde 2026

“Só temos um planeta, uma só cidade”, descreve a autarca. “Nós, vimaranenses, fizemos este caminho, um caminho que merecia reconhecimento. É um resultado natural do caminho percorrido. Finalmente, fez-se justiça a Guimarães!”

A cidade também foi reconhecida em Março como uma das 100 cidades europeias mais comprometidas com a neutralidade carbónica até 2030 com o certificado Mission Label da Comissão Europeia.

Texto editado por Ana Fernandes

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