Domingo, Setembro 8

Nos últimos seis anos foram apreendidas quantidades recorde na União Europeia

O relatório europeu sobre drogas divulgado esta terça-feira alerta para que a cocaína e os seus derivados são dos consumos mais preocupantes a nível da saúde pública na Europa.

“Há sinais de que a elevada disponibilidade de cocaína na Europa está a ter um impacto cada vez mais negativo na saúde pública”, afirma o Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (EMCDDA, na sigla em inglês) no “Relatório Europeu Sobre Drogas 2024 – Tendências e Desenvolvimentos”.

A cocaína é a segunda droga ilícita comunicada tanto por quem recorre pela primeira vez aos serviços de tratamento da toxicodependência (29.000 em 2022), como por quem se apresenta nas urgências hospitalares (mencionado em 28% das apresentações de toxicidade aguda).

Os dados disponíveis sugerem que a droga também esteve presente em cerca de um quinto das mortes por overdose comunicadas em 2022, muitas vezes detetadas juntamente com outras substâncias.

Particularmente preocupante para o Observatório é o facto de o consumo de cocaína parecer estar a tornar-se cada vez mais comum em grupos mais vulneráveis ou marginalizados em alguns países, tanto da forma injetada como o consumo de ‘crack’ de rua (chamado cocaína dos pobres).

Estimulantes como a cocaína têm também estado envolvidos em surtos localizados de VIH entre consumidores de drogas injetáveis, em diversas cidades europeias ao longo da última década.

Nos últimos seis anos foram apreendidas quantidades recorde na UE, com 323 toneladas em 2022.

As apreensões europeias excedem agora as realizadas nos Estados Unidos, historicamente considerado o maior mercado mundial de cocaína.

O tráfico de grandes volumes de cocaína em contentores marítimos através dos portos da Europa continua a ser um fator significativo na elevada disponibilidade da droga na região.

À medida que as polícias têm fortalecido o combate, os grupos de criminalidade organizada também têm como alvo os portos mais pequenos, tanto nos países da UE como nos que fazem fronteira e que podem ser mais vulneráveis ao tráfico.

Os grupos de criminalidade organizada também abastecem os consumidores europeus através do processamento de produtos ilícitos de cocaína em vários países da UE, tendo sido desmantelados 39 laboratórios de cocaína em 2022 (34 em 2021).

Também o panorama da canábis, a droga mais consumida em toda a UE em pessoas entre os 15 e os 64 anos, “está a mudar e a criar novos desafios para as políticas” dos Estados-membros.

O teor médio de THC (grau de potência) da resina de canábis duplicou nos últimos 10 anos e continua a aumentar (22,8% em 2022), enquanto o da canábis herbácea (erva) tem permanecido geralmente estável, adianta o relatório.

Os produtos de canábis são agora cada vez mais diversificados, incluindo extratos e produtos comestíveis de alta potência, havendo relatos de que alguns destes vendidos no mercado ilícito como canábis podem estar adulterados com canabinóides sintéticos potentes.

Em 2023, o Sistema de Alerta Rápido da UE recebeu relatórios sobre nove novos canabinóides, quatro dos quais eram semissintéticos.

A canábis foi também a substância mais frequentemente comunicada pela rede hospitalar Euro-DEN Plus em 2022, estando envolvida em 29% das apresentações de toxicidade aguda de drogas (25% em 2021).

O EMCDDA alerta que o consumo de canábis pode causar ou agravar uma série de problemas de saúde física e mental, incluindo sintomas respiratórios crónicos, dependência e sintomas psicóticos.

Segundo o relatório, dada a complexidade do mercado e a variedade de produtos disponíveis, torna necessária uma maior investigação sobre os desafios específicos enfrentados pelas pessoas que a consomem, a fim de identificar as opções de tratamento mais eficazes.

A canábis continua a ser o estupefaciente mais consumido na Europa, tendo no último ano sido usada por 22,8 milhões de pessoas, quando o panorama está a mudar, com substâncias sintéticas mais potentes e novas misturas e padrões.

Estas são conclusões do “Relatório Europeu Sobre Drogas 2024 – Tendências e Desenvolvimentos”, hoje divulgado em Lisboa pelo Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (EMCDDA, na sigla em inglês) e que se baseia em informações do ano anterior fornecidas pelos Estados-membros (mais Turquia e Noruega).

Segundo os dados, a canábis foi consumida por 22,8 milhões (8%) com idades entre os 15 e os 64 anos, número que aumenta para 85,4 milhões de pessoas (29,9%) ao longo da vida.

A cocaína, a segunda droga ilícita mais consumida, foi usada no último ano por quatro milhões (1,4%) pelo mesmo grupo etário, aumentando para 15,4 milhões (5,4%) ao longo da vida.

No que se refere aos comprimidos de MDMA (ecstasy), os números apontam para 2,9 milhões (1%) na casa dos 15 aos 65 anos, subindo para 12,3 milhões (4,3%) que responderam sobre consumos ao longo da vida.

As anfetaminas foram usadas no último ano por 2,3 milhões (0,8%) de adultos entre os 15 e os 64 anos, subindo para 10,3 milhões (3,6%) ao longo da vida.

A heroína (o opiáceo ilícito mais consumido na Europa) e outros opiáceos sintéticos foram usados por 860 mil consumidores de alto risco, que o relatório não especifica que idades abrange.

Em 2022, 513 mil utilizadores estiveram em tratamento de substituição opiácea, sendo esta a droga que representa cerca de 24% dos pedidos de tratamento na UE. A mesma droga é encontrada em 74% dos casos de morte por overdose.

Substâncias sintéticas mais potentes e novas drogas e consumos preocupam

O panorama das drogas está a mudar na Europa, com substâncias sintéticas opiáceas mais potentes, novas misturas de produtos e mudanças nos padrões de consumo, revelam dados do relatório europeu sobre drogas.

Estas mudanças estão a provocar uma ameaça crescente e a aumentar os problemas de saúde pública, conclui o “Relatório Europeu Sobre Drogas 2024 – Tendências e Desenvolvimentos”, hoje divulgado em Lisboa pelo Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (EMCDDA, na sigla em inglês).

Este observatório inicia no dia 02 de julho um novo mandato com poderes reforçados e mais abrangentes, face aos novos desafios que têm surgido na área do tráfico, do consumo e novas substâncias.

O documento, que apresenta dados do ano anterior dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE), Turquia e Noruega, sublinha que os consumidores estão mais expostos a “uma gama mais vasta” de substâncias psicoativas, “muitas vezes de elevada potência ou pureza, ou em novas formas, misturas e combinações”.

“Com produtos mal vendidos (muitas vezes pela Internet e com substâncias adulteradas), os consumidores podem não ter a consciência do que estão a consumir e ficarem sujeitos a maiores riscos para a saúde, incluindo envenenamento potencialmente fatal”.

É o caso da heroína, que continua a ser o opiáceo mais consumido na Europa e responsável por “parte significativa” dos problemas de saúde, sendo o mercado europeu “cada vez mais complexo”, com uma variedade de substâncias sintéticas que estão a causar preocupação.

O relatório destaca preocupações em torno dos opiáceos sintéticos potentes, por vezes vendidos indevidamente ou misturados com medicamentos e outras drogas, assim como MDMA (ecstasy) adulterado com catinonas (estimulantes) sintéticas e produtos de canábis adulterados com canabinóides sintéticos.

No final de 2023, o EMCDDA monitorizava mais de 950 novas substâncias psicoativas, 26 das quais notificadas pela primeira vez na Europa nesse ano.

Uma mensagem do relatório deste ano vai para os policonsumos: duas ou mais substâncias psicoativas ao mesmo tempo ou em sequência, muitas vezes misturada com álcool.

O problema crescente dos opiáceos na Europa aparece com uma “ameaça emergente” denominada nitazenos (opioide sintético 40 vezes mais forte do que o fentanil e 140 vezes mais poderoso do que a morfina), que se expandiu por todo o mundo e que terá causado nos últimos quatro anos mais de 200 mortes.

Desde 2009, surgiram no mercado europeu de droga 81 novos opiáceos sintéticos, altamente potentes e com um enorme risco de envenenamento e morte por overdose.

Em 2023, seis dos sete novos opiáceos sintéticos notificados pela primeira vez ao Sistema de Alerta Rápido da UE eram nitazenos, o maior número desta substância notificado num ano.

O relatório alerta que a Europa tem de melhorar a sua preparação para eventuais mudanças de mercado, garantindo prevenção e tratamento adequados, incluindo o acesso a medicamentos e a serviços de redução de danos, bem como disponibilizando fornecimentos de naloxona, o medicamento para reversão de overdoses.

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