Quarta-feira, Dezembro 4

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O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil terá, neste ano, o melhor resultado dos últimos 10 anos, com exceção de 2021, quando houve a recuperação da pandemia do novo coronavírus. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o somatório de todas as riquezas produzidas pelo país registraram avanço de 0,9% no terceiro trimestre ante os três meses imediatamente anteriores. Na comparação anual, o salto foi de 4%. Esse forte crescimento está conjugado com o menor índice de desemprego da história (6,2%).

Chame a atenção a qualidade da expansão do PIB: está sendo puxado por investimentos, ou seja, uma formação brutal de capital fixo. Significa dizer que os empresários decidiram ampliar as fábricas porque têm a certeza de que, mais à frente, terão para quem vender seus produtos. Capacidade maior de oferta resulta em menor pressão inflacionária no futuro. Pelos cálculos do IBGE, os investimentos aumentaram 2,1% entre julho e setembro frente ao trimestre anterior e 10% sobre os mesmos três meses do ano passado.

O crescimento do Brasil está sendo puxado pelo mercado interno e não depende do agronegócio, como a vinha está falando. Muito pelo contrário. No terceiro trimestre, a agricultura e a pecuária recuaram 0,9% sobre os três meses anteriores. Já o setor de serviços, que é o maior empregador no país, avançou, na mesma base de comparação, 0,9% e a indústria, 0,6%. Com mais dinheiro no bolso dos trabalhadores, o consumo das famílias teve impulso de 1,5%. As exportações recuaram 0,6% e as importações cresceram 1%.

Todos esses números me levam a perguntar: cadê a crise do Brasil, tão propagada pelos analistas do mercado financeiro? Eles que, no início do ano, diziam que o PIB brasileiro cresceria 1,75%. Os erros de projeções desses especialistas têm sido tão gritantes, que, agora, estão correndo para refazer as contas e apostar em uma de até 4% do PIB no encerramento de 2024. Pelos levantamentos do IBGE, o PIB está no nível mais elevado da história . Mais: entre os países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil teve o sexto maior crescimento trimestral, ao lado da China e de Israel. De novo, perguntas: cadê a crise?

Com todos esses números, é difícil compreender porque tanto pessimismo entre os agentes financeiros em relação ao Brasil, a ponto de empurrarem o dólar para acima de R$ 6. Não há dúvidas de que há problemas no país, principalmente no que se refere às contas públicos. Mas, convenhamos, o Brasil está muito longe do precipício alardeado pelos pessimistas. Quando assumiu o governo, em janeiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva herdou um déficit fiscal de mais de R$ 200 bilhões (31,8 bilhões ou mil milhões de euros). O país deve encerrar o ano com um rombo próximo de R$ 30 bilhões (4,8 bilhões ou mil milhões de euros).

Os pessimistas alegam que essa redução no rombo das contas públicas se deu principalmente por causa do aumento de receitas, pois não houve um corte efetivo de gastos. O que há é uma promessa de redução de despesas de até R$ 70 bilhões (11,1 bilhões ou mil milhões de euros), pacote que, em parte, depende de apoio do Congresso, que vem gastando como nunca por meio de emendas parlamentares .

Os mesmos pessimistas vão chamar a atenção para o aumento da dívida pública, mas se esquecem de dizer que parte do salto se deve ao volume de precatórios (débitos reconhecidos pela Justiça) que não foram pagos durante o governo de Jair Bolsonaro. Esses analistas, inclusive, defendem a inflação, que está em torno de 4%, em disparada e forçam o Banco Central a aumentar os juros, que estão em 11,25% e podem passar de 13% ao ano se a instituição sancionar as apostas do mercado.

Resta saber se a população brasileira, que anda raciocinando muito mais pelo que se diz nas redes sociais e nos grupos de mensagens, perceberá o quanto o Brasil avançou nos últimos dois anos, com o menor índice de desemprego da série histórica, o maior número de trabalhadores com carteira assinada que já se viram no país, a renda mais elevada do trabalho e o crescimento econômico fortalecido.

Ao longo dos tempos, se convencionou dizer que a parte mais sensível do ser humano era o bolso. Nesses tempos de fake news, essa máxima parece não se confirmar mais. De qualquer forma, perguntas novamente: cadê a crise do Brasil?

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