Quinta-feira, Janeiro 16

O Presidente cessante dos Estados Unidos, Joe Biden, proferiu esta quarta-feira (madrugada de quinta em Portugal) o seu último discurso a partir da Sala Oval da Casa Branca, desejando sucesso ao seu sucessor, Donald Trump, mas alertando para a transformação do país numa “oligarquia”.

“Hoje, uma oligarquia está a estabelecer-se na América, com extrema riqueza, poder e influência que ameaçam realmente toda a nossa democracia, os nossos direitos e liberdades elementares, e a justa oportunidade para todos”, criticou o Presidente democrata, apontando para uma “concentração perigosa de poder nas mãos de um caçador de pessoas ultra-ricas”.

A próxima Administração Trump será a mais rica da história, contando com vários multimilionários nomeados para cargos governativos, a carreira de confirmação pelo Senado, como Scott Bessent (Tesouro), Doug Burgum (Interior), Howard Lutnick (Comércio) ou Linda McMahon (Educação). ). Na órbita da Casa Branca posiciona-se ainda o homem mais rico do mundo, Elon Musk, que ganha a carga de um projeto de reforma do Estado, sendo igualmente público a aproximação recente a Trump por parte de Jeff Bezos e Mark Zuckerberg, segundo e terceiro homem mais rico do mundo, que beneficiará na tribuna de honra da cerimónia de tomada de posse do próximo Presidente, na segunda-feira.

A influência das grandes fortunas na próxima Administração norte-americana foi apenas um dos alertas deixados por Biden, que declarou que “a imprensa livre está a ruir” e que “as redes sociais desistiram de verificar factos”, gerando o risco de uma “avalanche de desinformação que facilita o abuso de poder”. Também aqui com Musk, Bezos e Zuckerberg como implícitos vistos, ao responsabilizar o “complexo industrial tecnológico”.

Em risco, um “sistema de separação de poderes” que, admitiu Biden, “pode não ser perfeito, mas garantiu a democracia por quase 250 anos, mais do que qualquer outra nação na história que experimentou tal ousadia”. Para examiná-lo, o Presidente democrata apelou a uma reforma fiscal que “não dê os maiores benefícios aos bilionários”, a um maior combate ao financiamento oculto das campanhas eleitorais e aos conflitos de interesse dos membros do Congresso e dos juízes do Supremo Tribunal, e ainda uma reforma constitucional que esclarece que “nenhum Presidente é imune em relação aos crimes que ele ou ela cometa em exercício”.

Legado no clima, cessar fogo em Gaza

Para além dos recados, Biden aproveitou o seu último discurso para voltar a fazer a defesa do seu legado, realçando o pacote legislativo Lei de Redução da Inflação como “a mais significativa lei climática e de energia limpa do mundo”. Até 2030, os Estados Unidos deverão investir 370 milhões de dólares em incentivos à produção de energia renovável e à redução de emissões de emissões para responder ao que, esta noite, o Presidente democrata voltou a qualificar-se como uma “ameaça existencial”. No entanto, alertou, há “forças poderosas” que querem influenciar a próxima Administração a revogar o pacote de combate às alterações climáticas “para servir os seus próprios interesses de poder e lucro”.

No discurso de despedida, Biden fez questão de reivindicar o papel da Administração cessante na negociação do cessar-fogo agora alcançado entre Israel e o Hamas. “Este plano foi desenvolvido e negociado pela minha equipe e será amplamente implementado pela próxima Administração”, disse, repetindo a ideia de que o acordo agora teve como base uma proposta que a Casa Branca e o Departamento de Estado foram anunciados em maio de 2024.

Horas antes, Trump tinha recorrido à sua rede social, a Truth Social, para anunciar o acordo e sugerindo que tinha influenciado o desfecho das negociações: “Este épico acordo de cessar-fogo só poderia ter acontecido como resultado da nossa vitória histórica em Novembro. “

A Casa Branca confirma que Steve Witkoff, o enviado especial de Trump para o Médio Oriente, participou na recta final das conversas entre israelenses e palestinos no Qatar, e Biden sublinhou que, nos últimos dias, a Administração cessante e os seus sucessores têm trabalhado e falado “como uma equipe”.

Biden concluiu seu discurso final com um “eterno agradecimento” ao “povo americano”. “Depois de 50 anos de serviço público, dou-vos a minha palavra. Continuar a acreditar no ideal pelo qual esta nação se ergue, uma nação onde a força das nossas instituições, do caráter do nosso povo, importante e tem de perdurar. Agora é a sua vez de ficar de vigia”, disse.

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