Terça-feira, Outubro 22

Reconhecendo que a população do bairro “está zangada”, Edgar Cabral, um dos elementos da associação de moradores A Partilha, garantiu que o bairro nada tem contra a polícia, “desde que faça bem o seu trabalho”

Uma centena de moradores do Bairro do Zambujal, na Amadora, concentraram-se esta terça-feira pedindo “justiça” pela morte de um residente, baleado na segunda-feira pela PSP no Bairro da Cova da Moura.

Pessoas de todas as idades e das diferentes comunidades étnicas que residem no Zambujal reuniram-se no centro do bairro, bem perto do café de Odair Moniz, de 43 anos, que foi morto na sequência de uma intervenção policial na Cova da Moura ainda de madrugada.

Elementos da associação de moradores do Bairro do Zambujal disseram aos jornalistas que “é preciso apurar responsabilidades” acerca da morte, para a qual não encontram justificação.

Reconhecendo que a população do bairro “está zangada”, Edgar Cabral, um dos elementos da associação de moradores A Partilha, garantiu que o bairro nada tem contra a polícia, “desde que faça bem o seu trabalho”.

À CNN Portugal, um outro morador lamentou a morte de Odair e disse que a polícia “não tinha direito de lhe tirar a vida da maneira que tirou”.

“Conheci o Odair, era uma pessoa boa. (…) Não merecia o que lhe aconteceu. Era uma pessoa muito querida, respeitosa, honesta, sincera e trabalhadora”, disse, não querendo ser identificado. “A justiça vai ter de ser feita de qualquer maneira. Tem de haver um culpado por aquilo que aconteceu.”

Segundo a Polícia de Segurança Pública (PSP), o homem de 43 anos estava “em fuga”, tendo sido baleado por um agente por alegadamente ter “resistido à detenção e tentado agredir [os polícias envolvidos] com recurso a arma branca”.

“Minutos antes, na Avenida da República, na Amadora, o suspeito, ao visualizar uma viatura policial, encetou fuga para o interior do Bairro Alto da Cova da Moura”, referiu a força de segurança em comunicado na segunda-feira.

O homem acabou por morrer no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, para onde foi transportado. A PSP anunciou a abertura de um inquérito interno para apurar as circunstâncias da ocorrência, bem como o Ministério da Administração Interna.

A Academia do Johnson, associação no bairro do Zambujal, apelou à “serenidade” na manifestação.

Em declarações à Lusa, o presidente da direção da associação fundada por Johnson Semedo, Carlos Simões, relatou um ambiente de “indignação” no bairro, que, confirmou, resultou em “aglomerados de pessoas” durante a noite e em distúrbios que obrigaram à intervenção da polícia e dos bombeiros (motivada por focos de incêndio em caixotes do lixo).

“Neste momento, a situação está calma e foi reposta a circulação”, frisou, ao final da manhã, acrescentando que a polícia continua presente, “com um dispositivo discreto”, à entrada do bairro, junto à esquadra.

Deixando um apelo à serenidade, o dirigente realçou que “é preciso encontrar estratégias que não anulem a indignação, a zanga, a revolta, mas possam ser mais eficazes”.

Odair Moniz, contou, era dono e gerente de um café com “um ambiente calmo” no bairro do Zambujal.

“Era uma pessoa bastante cordial, que dava conselhos sensatos, e não criava rebuliço no bairro”, descreveu, reconhecendo a surpresa ao saber da sua morte.

A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa já contestaram a versão policial sobre a morte de Odair Moniz e exigem uma investigação “séria a isenta” para apurar “todas as responsabilidades”, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.

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