Domingo, Setembro 22

Um estudo indica que um asteroide gigantesco atingiu a lua de Júpiter, Ganimedes, há cerca de quatro mil milhões de anos, deslocando o eixo daquela que é a maior lua do Sistema Solar

De acordo com um novo estudo, a lua de Júpiter, Ganimedes, pode ter-se deslocado do seu eixo quando um asteroide gigante a atingiu há cerca de quatro mil milhões de anos.

Aquela que é a maior lua do Sistema Solar, ultrapassa as dimensões de Mercúrio e do planeta anão Plutão. Investigações encontraram provas que sugerem que, sob a sua crosta espessa e gelada, encontra-se um oceano salgado que é 10 vezes mais profundo do que os oceanos da Terra.

Contudo, ainda há muitas questões sobre esta lua, e os cientistas precisam de mais imagens de alta resolução da sua superfície para resolver os mistérios que envolvem a história e a evolução de Ganimedes.

A superfície de Ganimedes está coberta de sulcos profundos, que formam um padrão de círculos concêntricos em torno de um ponto, o que levou alguns astrónomos a acreditar que a lua sofreu um grande impacto no passado.

“As luas de Júpiter Io, Europa, Ganimedes e Calisto têm todas características individuais interessantes, mas a que me chamou a atenção foram estes sulcos em Ganimedes”, conta Naoyuki Hirata, professor assistente de Planetologia na Universidade de Kobe, no Japão, num comunicado. “Sabemos que esta característica foi criada pelo impacto de um asteroide há cerca de quatro mil milhões de anos, mas não tínhamos a certeza da dimensão desse impacto e do efeito que teve na lua”.

Hirata é o autor de um novo estudo publicado em setembro na revista Scientific Reports, que explora o que criou o sistema de sulcos de Ganimedes e as consequências do impacto — que poderá ser investigado mais de perto pela nave espacial Juice da Agência Espacial Europeia, que está atualmente a caminho para estudar Júpiter e as suas luas.

Ganimedes está coberta de sulcos (direita). No maior sistema de sulcos, as cristas formam círculos concêntricos à volta de um ponto específico (esquerda, cruz vermelha). (Imagem: Naoyuki Hirata)

Um impacto antigo

Ganimedes há muito que intriga Hirata, que afirma acreditar que descobrir a sua evolução é “significativo”. A superfície da lua é um estudo de contrastes, com regiões brilhantes de cristas ao lado de sulcos que atravessam áreas mais escuras.

Hirata observou mais de perto o sistema de sulcos em Ganimedes, que se estendem a partir de um único ponto na superfície da lua, como as fendas concêntricas que se formam quando uma pedra atinge o para-brisas de um carro, explica.

Também reparou que o ponto central do sulco estava alinhado com o eixo de rotação da lua, o que sugere que algo como um grande impacto causou uma reorientação completa da lua.

Um gráfico recria o cenário provável do impacto que reorientou o eixo de Ganimedes. (Imagem: Naoyuki Hirata)

Pesquisas anteriores sugeriram que um grande corpo planetário colidiu com Plutão no início da sua história, reorganizando a distribuição do gelo no planeta anão e levando à criação de um “coração” distinto na superfície do planeta. Hirata acredita que um cenário semelhante ocorreu em Ganimedes, com a sua concha gelada e oceano subsuperficial.

Uma mudança súbita na forma como a massa está distribuída num planeta pode alterar a localização do seu eixo, ou a linha imaginária em torno da qual giram os corpos planetários. Quando um grande asteroide colide com um planeta, cria uma anomalia gravitacional que altera a forma como o planeta gira. Assim, Hirata calculou que tipo de impacto poderia ter criado a orientação atual de Ganimedes.

As suas equações revelaram que um asteroide com cerca de 300 quilómetros de largura criou inicialmente uma cratera com cerca de 1.400 a 1.600 quilómetros de diâmetro.

O asteroide era 20 vezes maior do que o que colidiu com a Península de Yucatán, em Chicxulub, no México, e levou à extinção dos dinossauros na Terra há 66 milhões de anos. A cratera deixada em Ganimedes tinha 25% do tamanho da lua de Júpiter, de acordo com o estudo.

Investigação aprofundada da missão Juice

Ainda não se sabe ao certo quanto é que o eixo de Ganimedes se deslocou, diz Hirata. No entanto, os dados que a missão Juice poderá recolher no futuro podem lançar mais luz sobre a história de Ganimedes e sobre as circunstâncias do impacto.

A nave espacial, lançada em abril de 2023, completou um sobrevoo histórico da Terra e da lua a 21 de agosto, o que a colocou no caminho certo para chegar a Júpiter e às suas luas em 2031.

É difícil para os investigadores saber se um impacto antigo criou os sulcos em Ganimedes sem mais dados, que a missão Juice poderá fornecer, afirma Adeene Denton, investigadora de pós-doutoramento no Laboratório Lunar e Planetário da Universidade do Arizona. Denton não esteve envolvida no estudo de Hirata.

“Este artigo apresenta uma premissa interessante, com muito em que pensar para a evolução das luas geladas e dos mundos oceânicos”, diz Denton, coautora de um estudo sobre os impactos em Plutão e na sua grande bacia, chamada Sputnik Planitia, que constitui o lóbulo esquerdo do coração observado pelos astrónomos.

“Vale a pena notar que se pode justificar algum ceticismo quando se consideram características geológicas antigas e degradadas em corpos planetários e a forma como afetam a orientação de um planeta”, explica. “Com tão pouca informação sobre estas características grandes e antigas, é difícil ter confiança na identificação desta característica como uma bacia, bem como numa potencial anomalia de massa. Felizmente, ao contrário do que aconteceu com Plutão e (Sputnik Planitia), vamos voltar a Ganimedes em breve e podemos obter a informação adicional necessária para resolver isto”.

Os investigadores acreditam que o interior de Ganimedes pode ser semelhante a uma sanduíche, com camadas alternadas de gelo e oceano. Compreender a forma como o impacto alterou a lua pode revelar informações sobre a sua intrigante estrutura interna, prevê Hirata.

“Quero compreender a origem e a evolução de Ganimedes e de outras luas de Júpiter”, afirma. “O impacto gigante deve ter sido significativo no início, mas os efeitos térmicos e estruturais do impacto no interior ainda não foram investigados. Penso que, a seguir, poderá ser efetuada mais investigação sobre a evolução interna das luas geladas”.

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