Domingo, Outubro 13

Catarina Pazes pede mais investimento nesta área para que se criem condições “para as equipas que existem se desenvolverem e para que tenham as condições de que precisam para trabalhar com qualidade”

A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) apela a um maior investimento nesta área, pedindo que deixe de ser vista como um privilégio e que quem precisa tenha acesso atempado em qualquer região do país.

Em declarações à agência Lusa a propósito do Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, que se assinala na segunda-feira, a presidente da APCP, Catarina Pazes, reconheceu que esta área continua a ser considerada como um luxo, pois a dificuldade de acesso é grande e há muita assimetria na oferta. “Continua a ser, para uns, uma coisa desconhecida (…). Para outros, quem já conhece, é uma exigência natural, mas, infelizmente, (…) havendo uma assimetria ainda tão vincada no acesso, acaba por ser visto como um privilégio ou um luxo”, afirmou.

A presidente da associação pede mais investimento nesta área para que se criem condições “para as equipas que existem se desenvolverem e para que tenham as condições de que precisam para trabalhar com qualidade”. “Apelo a quem governa e a quem está a apresentar o Orçamento do Estado, para colocar uma verba adequada para que se defina os cuidados paliativos como uma prioridade. São uma urgência, uma emergência para o Serviço Nacional de Saúde, mas precisam de investimento”, afirmou.

Defendeu que os cuidados paliativos devem ser vistos como qualquer outra especialidade da área da saúde, “com o mesmo nível de dignidade e respeito”. A responsável lamentou ainda a grande assimetria de respostas no país, mas disse que há “bons exemplos” que ajudam a explicar a importância dos cuidados paliativos, uma área em que reconheceu haver pouca exigência da sociedade civil.

Catarina Pazes alertou ainda para a “normalização do sofrimento”, sublinhando: “Nos hospitais, nos lares idosos, há uma certa normalização do sofrimento. Pensa-se que se a pessoa está naquela situação, é normal”. “Não, não é normal as pessoas passarem por tudo isto sem um suporte adequado e o facto de não terem esse suporte adequado faz com que tenham de recorrer muito mais vezes ao hospital, ao serviço de urgência”, acrescentou. Estas situações “desgastam a pessoa doente e a família” e “provocam insegurança e angústia”, observou.

“Quando chegamos à fase mais final da vida, naturalmente, não havendo todo este suporte ao longo do percurso, a única saída é procurar um internamento num sítio onde a pessoa possa ficar, o que muitas vezes não aparece no momento em que é preciso ou, quando aparece, é muito longe [da família] e as pessoas acabam por não aceitar”, explicou.

No âmbito do Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, a APCP vai promover uma campanha para sensibilizar a população para a importância deste nível de cuidados.

Estima-se que, em Portugal, mais de 100 mil pessoas, entre crianças, jovens, adultos e idosos, precisam de cuidados paliativos, mas cerca de 70% não têm acesso.

Esta área foi alvo de um relatório recente da Entidade Reguladora da Saúde, que analisou o acesso e concluiu que, no ano passado, quase metade dos utentes referenciados para unidades de cuidados paliativos contratualizadas com o setor privado ou social morreram à espera de vaga.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) projeta que, até 2060, o número de pessoas que precisarão de Cuidados Paliativos poderá duplicar.

Compartilhar
Exit mobile version