A Renault desafiou a Oficina Marques — José Aparício Gonçalves e Gezo Marques — a criarem uma obra de arte a partir de materiais da indústria automobilística, com o propósito de mostrar dar uma nova vida através do processo de reciclagem. Isto é, uma transformação de materiais que seriam descartados, reaproveitando-os para uma nova utilidade. Neste caso, de um carro para um painel, que foi revelado nesta última semana.
Primeiro, é importante não confundir reciclagem com reciclagem. Apesar de terem valores em comum, no segundo processo degradam-se os materiais, enquanto nenhum outro é usado tal como se encontra. Aplicar-se a tudo e, por exemplo, também pode estar associado à moda. “Durante o reciclagem, não se esquece o que era antes daquele material. O objectivo é dar-lhe uma nova vida, com a vida e as histórias que já tinham”, esclarece José Aparício Gonçalves às Fugas.
A dupla de artistas viu no reciclagem e no convite da Renault uma oportunidade para contar uma história — uma que ficou a conhecer depois de visitar os concessionários do grupo automóvel, explorar o desperdício das peças e escolher aquelas que deseja incluir na obra e na mensagem a transmitir ao público. “Quando chegamos aos escritórios, chegamos a ver estes materiais que já tinham viajado muito nas mãos de outras pessoas, mas mantinham uma história”, continua.
Ao olhar para a obra final, há um aspecto que se destaca — o círculo. E os artistas confirmam. É que, durante o processo de seleção, aperceberam-se de que este elemento surgia várias vezes e, por isso, quiseram contar a história a partir daí.
Entre pastilhas de travões, discos de embraiagem, juntas, correias, cabos, carregadores e restos de pára-brisas, Gezo e José proporcionaram transmitir ao público que “somos todos um ponto de uma engrenagem, que é o Universo, pontos que estão ligados e construir uma constelação”, explicam. E deixa para reflexão: “Enquanto peça que faz tudo funcionar, qual é a nossa pegada na vida dos outros, na vida do planeta?”
Durante a criação desta peça surgiram desafios, como o peso e o tipo de material. “Há peças de carro muito pesadas e seria muito complicadas colocar-las num painel de parede”, salva Gezo Marques. Além disso, não são materiais maleáveis, aqueles a que a dupla está habituada. “Quando ganhou barro e madeira, conseguiu esculpir, moldar. Aqui, nós é que conhecemos que nos moldamos aos materiais”, admite.
Combinadas com tons de roxo, azul, rosa e branco, as peças agora pintadas mantêm, na sua maioria, as formas originais. “Nós não derretemos o ferro para transformar noutra coisa. Como veio da outra vida, como parte de um automóvel, passou para o painel”, sublinha. Quando se olham para o painel e para cada peça, os artistas dizem que é suposto “continuar a considerar aquilo que ela era”, no caso de um componente do Renault Scenic E-Tech, um automóvel “100% eléctrico, feito com 24% de materiais reciclados e 90% recicláveis”, destaca a marca. “Esse foi o mote e inspiração para este projeto de reciclagem, onde quisemos comprovar que a vida de um objeto não termina em si mesma e que pode sempre originar algo de maior valor.”
A peça de arte final será leiloada, com o valor a reverter para uma instituição instalada pela Renault.
Texto editado por Carla B. Ribeiro