O cenário não é animador: as temperaturas elevadas do planeta, derivadas da emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera, já põe em perigo diversas espécies, ecossistemas e o bem-estar do ser humano. Como alterações climáticas A forçar o ser humano estão a desenvolver soluções para lidar com a maior intensidade e frequência de fenómenos extremos como as ondas de calor. Uma destas adaptações pode ser a roupa que usamos no dia-a-dia.
“É essencial desenvolver uma tecnologia de gestão térmica adaptativa e inteligente da temperatura para fazer face às flutuações das condições ambientais”, descrevem o pesquisador no estudo publicado na revista Avanços da Ciência. “Além disso, esta tecnologia inteligente de gestão térmica adaptativa deve ter uma capacidade de alternância entre os modos de resfriamento e aquecimento na medida em que a temperatura ambiente se altera”.
Investigadores da Universidade de Tsinghua, na China, desenvolveram um tecido inteligente que muda de cor dependendo da temperatura externa – o tecido inteligente (tecido inteligenteem inglês). Este tecido é carregado com microcápsulas termocrômicas, ou seja, que mudam de cor sob determinadas temperaturas e revestido com óxido de grafeno, um excelente condutor de calor, e sulfato de bário, com aplicações na indústria química e na radiologia.
Para os dias mais frios, o tecido preto absorve a luz solar e armazena-a, ao contrário dos dias mais quentes onde o tecido, agora branco, reflete a radiação solar e garante o aquecimento da peça de roupa.
Um passo na adaptação às mudanças climáticas
No primeiro dia de novembro, o pesquisador fez uma demonstração desta tecnologia durante 12 horas em Pequim, na China. Colocaram um tecido de 100 mm por 100 mm “em duas caixas térmicas para monitorar diretamente a temperatura”. O investigador determina a capacidade de resfriamento durante as fases mais quentes do dia assim como o aquecimento através da absorção da luz solar, conseguindo, assim, regular a temperatura e adaptar o vestuário às flutuações de temperatura.
“A uma temperatura ambiente elevada, o tecido inteligente tem uma reflexibilidade solar elevada e uma emissão seletiva de 94% na janela atmosférica para realizar o resfriamento radiativo”, explicam o pesquisador no estudo. “Proporciona um ambiente de conforto térmico de 19 a 28 graus Celsius ao corpo humano e ao ambiente de vida, o que demonstra que o vestuário e as tendas preparadas com estes têxteis são capazes de se adaptarem à temperatura e de se adaptarem a todas as condições consequências”, conclui.
No entanto, existem alguns desafios a ter em conta antes da comercialização deste produto. Actualmente, a produção deste tecido é muito dispendiosa para o “mercado em massa”, o que reforça a necessidade de optimizar o processo. É crucial entendermos as “preferências do usuário” no que toca o “conforto, estética e funcionalidade” para garantir que este tecido abrange o maior número de consumidores possíveis.
O investigador destaca, ainda, o potencial deste tecido para receber novas funcionalidades como “monitorização do estado de saúde do utilizador” ou “limpeza própria”.
China e aposta na indústria têxtil adaptada ao clima
Em 2023, a Universidade de Nankai, na China, desenvolveu uma “roupa” que, através da energia solar e de um “sistema avançado de termorregulação” é capaz de aquecer o corpo humano quando está frio e arrefecê-lo quando está calor.
Este modelo conjuga um “módulo fotovoltaico eficiente com unidades eletrocalóricas para uma termorregulação personalizada e personalizada”, segundo explicam o pesquisador do estudo publicado na revista Ciência. O dispositivo proposto pela equipe chinesa pode ser integrado em roupas normais, do cotidiano, dando-lhes um aspecto futurista.
A ciência tem feito esforços para tornar a adaptação do ser humano às alterações climáticas mais fácil, mas o primeiro passo terá sempre de ser a diminuição das emissões com gases de efeito de estufa e a transição energética. Os têxteis têm um grande potencial no que toca a soluções avançadas de controle de temperatura, mas não serão suficientes se as questões mais estruturais não forem abordadas.