Sábado, Novembro 30

Uma pausa não resolve o problema, mas é essencial para recuperar forças e reavaliar o caminho. O cessar fogo no Líbano funcionou dessa forma: uma pausa estratégica que não encerra o esforço, mas cria espaço para reorganização e possíveis avanços.

Horas após um ataque israelense que matou pelo menos 10 pessoas no sul do Líbano, Netanyahu anunciou um acordo com o Hezbollah.

O primeiro-ministro não agiu por compaixão pelos civis libaneses. Pelo contrário, o cessar-fogo é mais estratégico do que pacífico. Netanyahu cedeu às pressões internas e externas. As internas vêm dos cidadãos israelenses deslocados do norte do país, que querem regressar às suas casas. As externas são maioritariamente exercidas pelos Estados Unidos e pela França, que celebram a vitória diplomática após o importante apoio ocidental às respostas israelenses depois do ataque terrorista de 7 de outubro.

O acordo representa uma vitória para o Governo israelense, que conseguiu alcançar seus objetivos iniciais: dividir as frentes de batalha, enfraquecer severamente a infraestrutura do Hezbollah e eliminar oficiais de alta patente do grupo. Por isso, a retórica de Netanyahu sobre isolar o Hamas faz algum sentido. Contudo, a decisão de um cessar-fogo no Líbano pode trazer novamente os holofotes para a Faixa de Gaza, que caíram no esquecimento da opinião pública após uma invasão ao Líbano. Com “apenas” uma frente de batalha, Netanyahu pode ser ainda mais pressionado quanto à gravidade da situação precária em Gaza — uma guerra sem um propósito evidente e sem um objetivo claro.

Por outro lado, a justificativa inicial dos ataques de Israel após os ataques de 7 de outubro, o resgate de reféns, já perdeu força. Assim, a insatisfação popular em relação a esse ponto é notória e cresce. Neste aspecto, Netanyahu perde.

Ainda há, pelo menos, 100 reféns presos em Gaza. No entanto, apesar de seus discursos, recuperá-los não parece ser o objetivo de facto do primeiro-ministro israelense, que agora enfrenta, além de acusações internas de corrupção, um mandato internacional de prisão pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de crimes de guerra. Seu único objetivo parece ser sobreviver politicamente e evitar a prisão.

Também perderam o Irão e o Líbano. As primeiras perdas graves com as baixas e alguma humilhação (recorde-se o episódio dos pagers no Líbano) de dois importantes procuradores na região. Já no segundo momento, arrastado para o conflito, terá de se reconstruir novamente em mais uma situação econômica catastrófica, sem previsão de melhoria em um cenário político instável.

O cenário é de uma guerra interminável, sem metas declaradas e com consequências devastadoras. O Hezbollah está enfraquecido, mas não derrotado. Em Gaza, a tragédia humanitária continua e o futuro do território palestino permanece incerto: grupos e políticos indicam abertamente os seus planos de uma “recolonização” de Gaza, diminuindo ou eliminando sua população e já projetando um futuro obscuro.

A pausa no Líbano, embora uma boa notícia, não resolve os problemas nem a profunda complexidade do Médio Oriente. O Hezbollah enfraquecido representa uma vitória tática para Israel, mas Netanyahu permanece isolado e pressionado, tanto interna como externamente – por política e pela justiça.

Enquanto Gaza continua a testemunhar uma tragédia humanitária de proporções históricas, a ausência de objetivos claros nesta guerra fragiliza ainda mais a posição do primeiro-ministro, à custa de vidas humanas. O cessar-fogo no norte de Israel não resolve uma crise, apenas redirecionando as atenções para um problema maior e mais duradouro: o futuro incerto da região e dos seus povos.

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